quarta-feira, 26 de julho de 2023

Mais mudanças

Mudanças e mais mudanças de humor... Ontem até uma colega do trabalho presenciou o momento em que comecei a ficar mais agitado e a mudar as coisas da sala de repente, eufórico, naquele frenesi típico da mania um pouco mais aguda... Conversava com um amigo que esses dias, no entanto, guardam um sentimento amargo: muito embora eu fique bem mais disposto e as pessoas notem isso e vejam com bons olhos, e o meu rendimento vá lá em cima, uma parte de mim simplesmente adormece. 

É normal que homens na minha idade acordem excitados, no entanto, quando estou nessa fase de mania eu simplesmente morro. É semelhante ao efeito dos antidepressivos que devolvem certa vitalidade ao preço da libido, o que é uma reclamação recorrente de quem toma essas drogas. Me lembro que quando tomava mais remédios era bem assim, mas já tem mais de um ano que o tratamento foi interrompido e agora esse sintoma em particular voltou com ainda mais força.

Não consigo descrever o quanto é desagradável, e nem é pelo simples fato de não ficar duro, tomado isoladamente, mas pela sensação de estar quebrado, de não funcionar como deveria, algo tão normal e que, até pouco tempo atrás, era absolutamente natural. Qualquer menino desde os doze anos mais ou menos acorda assim, ou fica assim aleatoriamente na aula de educação física ou no ônibus, e nos acostumamos com isso, porque literalmente todos os outros meninos ao nosso redor passam pela mesma coisa a logo entendemos que não depende de algo sério para acontecer, mas então sentir que eu simplesmente não funciono mais, que eu nem sequer respondo aos estímulos de sempre também, é como me dar conta de uma imperfeição fundamental. 

E então, graças a isso, esses dias são um misto de euforia com uma sensação de desgosto profunda. Por um lado eu fico com a disposição de construir uma casa, assim como mudei meu escritório ontem, ao mesmo tempo que não consigo nem levantar o pau... 

Por favor nem me venham com o discurso que eu estou repetindo a ideia batida de que o homem deve ser o amante viril e incessante, veja bem, não se trata disso, se trata pura e simplesmente de sentir o corpo disposto a correr uma maratona ao mesmo tempo que há uma vacuidade total em tudo mais. 

Enquanto isso eu sou humilhado falando demais o tempo todo, completamente irresponsável gastando mais do que ganho e até me comprometendo fisicamente também. Dias assim são um perigo, e eu tenho medo dessa euforia, desse fogo!

Fui esmagado então por essa torrente de pensamentos, e sempre que me vejo nessa fase eu torno a falar disso, e também esmagado pela impossibilidade, ou pela brutal limitação, de expressar o que se passa comigo nesses dias justamente porque o fluxo de ideias, de sentimentos, é tudo tão grande e tão rápido que eu não conseguiria demonstrar nem em dez sinfonias, se as soubesse escrever. 

Me deparei então com um gênio de assombrosa capacidade: comecei a ler o segundo volume da Tragédia Burguesa de Octávio de Faria e me vi engolido pelas profundas páginas da descrição dos dilemas do personagem principal... Ver a sensibilidade daquelas palavras, aliadas a força do drama daquele jovem, me encantou de tal maneira que me vi, num primeiro momento consciente da minha ainda tão limitada capacidade descritiva, ao mesmo tempo que me inspirou a me aprofundar mais e mais, a vasculhar com calma cada cantinho esquecido ou ignorado no meio da loucura da rotina, e ir descobrindo causas e cenas novas e até então desconhecidas, vagando na imensidão do meu universo interior que, no entanto, é um mistério para mim mesmo. 

Queria entender melhor a mim mesmo, não ser um problema para mim. Por um lado entendo que isso é algo que só se adquire com certa experiência e com a busca sincera de uma alma em constante confissão, dos limites, dos erros, dos acertos, dos sonhos e anseios mais profundos. Por muitas vezes olho para mim mesmo e continuo me perguntando: quem eu sou? O que eu quero? Eu quero alguma coisa? Eu espero alguma coisa? E esse ceticismo que contrasta com sonhos tão altos e brilhantes? E essa sensação de eterna solidão, sem ter a quem recorrer nas noites de lascívia e luxuriosas emergências?

Experimento em dias, e noites, assim, a mais absoluta solidão. O vento frio que fazia barulho na janela era minha única companhia e, até mesmo agora, tudo parece concorrer ao meu desequilíbrio, e eu sei bem que isso é um exagero, afinal eu não sou tão importante assim, mas de todo modo ainda resta esta experiência, algo como o gnosticismo inerente aos nossos tempos, aquela solidão infinita de que falava Pascal e tantos outros... Não havia mais ninguém naquela noite escura. 

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?" (Sl 21)

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