“Consolação”, Edvard Munch. |
É até difícil descrever o quanto estou machucado. Ferido, cansado de uma caminhada que não me levou a nenhum lugar. E parece que tudo que fiz foi reclamar, reclamar e reclamar. Cada vez que me olho no espelho, tenho a impressão de ver um homem ainda mais patético e miserável. Um homem fraco, incapaz de se impor, de enfrentar os mínimos confrontos, covarde. Como fui ficar assim? Indigno de ser chamado de homem.
Como pude me deixar machucar tanto por meu próprio coração? Como pude me deixar tanto afetar por coisas que estavam além do meu controle? Como pude esperar que o outro respondesse meus afetos? Que obrigação tem o outro de me amar?
Amei de graça, e assim deveria ser. Não deveria sofrer por isso. Mas o coração sofre, e com ele tudo o mais. O corpo sofre, a vontade vacila. Todas as potências da alma se tornam mutáveis, cambiantes, e eu vejo, sou obrigado a ficar diante, de toda a miséria da minha existência, das marcas de pecado. Eu sou realmente uma criatura patética. Mas, diferente dos outros homens, fracos e patéticos, eu não sou digno de pena, senão que mereço cada dia da minha condenação.
Condenação merecida por amar o que não devia, por desejar o que não devia, por não refrear os apetites mais baixos e crer que são amor. Não pode ser amor, pois o amor não pode doer assim, não pode ferir o homem desse jeito. Ou será que pode? Não terá Cristo sofrido por amor? Mas posso considerar isso que sinto como amor, ao mesmo nível do Dele? Então por qual razão parece que meu amor machuca, mas de um modo diferente? Ainda que seja amor, parece que tudo que tenho dele é essa dor...
Não consigo enumerar a quantidade de maldições que lancei quando vi que precisava levantar e encarar mais um dia.
É até difícil descrever o quanto estou machucado. Ferido, cansado de uma caminhada que não me levou a nenhum lugar. Como o amor pode machucar assim? Só se não for amor...
"Receio não dispor dos meios de expressão que lhe comuniquem meus sentimentos e anseios..." (Thomas Mann)
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