Depois das longas noites escuras,
depois de todo aquele abismo,
depois de toda imagem da morte próxima,
depois de todo aquele silêncio,
daquele vazio horrendo.
depois de todo aquele abismo,
depois de toda imagem da morte próxima,
depois de todo aquele silêncio,
daquele vazio horrendo.
Depois de tudo isso veio a euforia,
a febre,
o tremor do condenado.
É como se meus olhos fossem abertos depois de um longo e profundo sono. As coisas ao meu redor tornaram a ter cor, a grama brilha verde-esmeralda, mesmo o dia estando um pouco nublado consigo ver alguns raios rompendo a grossa barreira das nuvens, a música é mais do que um barulho para ecoar no vazio do meu peito.
O homem que escreve hoje não é o mesmo que ontem vegetava, que se arrastava da cama para o trabalho. Hoje eu efetivamente caminhei, hoje eu efetivamente sou homem a andar por este mundo, a olhar o céu, a desejar nadar nas águas.
É sempre uma transição louca, e me incomoda ser assim, tão intenso o tempo. Todos têm humores, todos, mas nem todos ficam prostrados num dia e ensandecidos no outro.
Fogo e gelo.
Guerra e Paz.
Guerra e Paz.
Não, paz não.
Não há nessa montanha de Sísifo nenhuma paz, apenas uma constante subida, apenas um ciclo infernal que sempre se repete.
De novo,
e de novo
e de novo.
e de novo
e de novo.
Mas, pelo menos, depois de uma longa e tortuosa caminhada numa escada estreita em plena noite escura, pude ver um amanhecer realmente brilhante, vivo, pulsante, coma luz do sol tocando e acariciando minha pele. Que eu não esqueça, no entanto, que devo seguir o exemplo dessa mesma luz: acariciar e tocar e aquecer a todos, mas em silêncio, de modo discreto que apenas algumas poucas almas poéticas possam perceber isso. Afinal, se sempre sou deixado no silêncio, por que deveria sofrer para esclarecer tudo os outros, mesmo que cada palavra minha diga sempre a verdade?
"Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?" (José Saramago)
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