domingo, 15 de setembro de 2024

Ecos, Luz e Dúvidas

"Ah, viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir - viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo, nem de espírito." (Clarice Lispector)

Bastou apenas que me sentasse para escrever e as ideias me fugiram completamente por entre os dedos. É assim a vida, fugidia em tantos aspectos. 

Ainda me sinto péssimo. Só uma noite insone foi o bastante para me desestabilizar completamente: a cabeça em estado de confusão, dores por todo o corpo (especialmente na altura dos rins e alto da coluna) e leve febre em alguns momentos. 

O sono desregulado acaba comigo. 
O amor não correspondido acaba comigo. 
A vida acaba comigo.

Sei que isso é apenas um reflexo de tudo o mais que está desregulado em mim, mas não há muito que eu possa fazer. Espero poder conseguir dormir e assistir amanhã, relaxar um pouco, descansar. 

Descanso.

Não raras vezes acho que o que preciso é mais do que isso, mas eu não sei dizer o que é, então apenas digo isso que é o que consigo traduzir em palavras: estou cansado de tudo, mas como descansar de tudo? 

Sempre acho que dormir por oito, dez horas, vai resolver. Não resolve. Mas o que posso fazer? No outro dia preciso continuar, e por isso aproveito cada um desses momentos, cada momento em que posso não ver, não sentir. Me encanta estar inconsciente. 

Talvez devesse encontrar aquilo, aquele detalhe que falta, a parte que falta em mim, para que eu seja eu mesmo. Mas o que seria isso? Eu não tenho a menor ideia. 

Mas deve ser alguma coisa, não é? 

O que será que falta em mim?

Algumas impressões ficaram na minha alma, principalmente depois de ver, numa manhã fria, nublada e ocasionalmente chuvosa de domingo, a temporada de The Time of Fever, spin-off com o casal secundário de Unintentional Love Story com Won Tae Min e Do Woo. A construção do relacionamento deles foi tão bem feita, como é comum nas produções coreanas, e fiquei impressionado mais uma vez com a capacidade deles de demonstrarem tantos sentimentos sem muitas palavras, apenas por olhares e gestos por vezes simples e que normalmente passariam despercebidos. 

Muito bem, como essas impressões se conectam?

Ainda continuo nessa, e sei o quanto isso é errado, de que talvez o que me falta seja alguém. Sei que não é verdade, e que alguém só pode ser completo, um ente é uno, o que duas pessoas podem fazer é apenas se unir e se ajudarem, complementarem, não completarem. 

Mas ainda assim, ao ver aquelas imagens de sombra e luz, do sol tocando delicadamente os personagens à medida que eles iam entendendo e aceitando seus sentimentos, ao mesmo tempo em que aumentava a insegurança e o medo daquilo que vinham sentindo com tanta força. Os sorrisos se tornaram mais abertos, brilhantes. 

Esse sentimento me parece algo capaz de preencher um vazio. 

Mas acho que ele não existe realmente fora da ficção, dos livros e das séries. Ainda assim, eu o persegui demais. Não vejo em mim os olhos gentis e apaixonados, e nem o sorriso doce que eles dão um ao outro, mas apenas aquele olhar alucinado que vi no Príncipe Desconhecido da ópera Turadot de Puccini. 

Assim como tantas vezes o exterior parece conter respostas. Sempre me volto aos belos homens da internet, de pele perfeita em vídeos de moda, maquiagem e cuidados da pele. Mas sei que isso é apenas uma resposta a essa impressão: a de que a perfeição estética atrai pessoas. Mas trata-se de um padrão alto demais, não digo inalcançável, mas complexo. 

Me restam então questionamentos. 

O que falta em mim? O que o outro pode ajudar? Por que persiste o vazio? Como o nada pode fazer tanto estrago? Como pode o nada ser tão profundo? Essas imagens, belas e inspiradoras, se nos servem apenas de inspiração e não são reais, por que deveríamos nos inspirar por elas se o resultado será sempre o desespero? Como uma queimadura de gelo, o nada continua machucando, continua atravessando o peito como uma espada de aço frio.

Todas perguntas que já fiz muitas vezes. Continuam sem resposta a ecoar dentro de mim. 

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