Mas, afinal, o que aconteceu com você nos últimos dias?
Para muito além de um episódio depressivo, descrito um ou dois textos atrás, que resultou num pânico social incômodo, se apossou de mim aquele vazio tremendo, uma desesperança tão profundamente impregnada no meu ser que, em verdade, eu desejaria não ter sobrevivido a esses dias.
O sentimento de não ser amado, o desejo de o ser, a solidão tão enraizada em mim, beirando quase o desespero total. Sinto como se minhas reservas de amor tivessem sido esvaziadas pelos próximos cinquenta ou sessenta anos. Muitos confundem com um mero humor ruim, mas não era isso. Outros acham que, por ser um episódio depressivo, era apenas uma fase em que meu coração se encontra descontente com tudo.
Também não era apenas isso.
Era, em verdade, um aprofundamento daquela consciência primeira, tão profunda, mas que ainda consegue se mostrar não nova, mas atualizando-se a cada dia: a perspectiva da solidão humana, da mentira do amor, de tal modo que, sendo essa coisa de amor tão falada e colocada em tão alto posto que, a decepção com sua reação face, a da indiferença, é como uma descida ao inferno, mais ou menos aos moldes de Dante, na qual se vê a miséria humana em sua face mais absurdamente maligna. Não tenho medo de dizer que essa solidão é, sim, fruto do demônio.
Era a consciência brutal do meu amor que fora negado.
Isso em impacto em diversas outras áreas. Nesses dias também se abateu em mim um descontentamento geral, seja com a paróquia e suas invencionices toscas, ou com o trabalho, e a falta de respeito que encontro lá. Com efeito, já não digo que trabalho com orgulho e crente de que esse pode ser um bom lugar para mim, abrindo portas e experiências, antes disso, agora quando acordo só consigo desejar que não tenha que ir, que não precise encontrar todos os dias as mesmas pessoas, egoístas, expansivas e toscas. O resultado disso é que estou cada dia mais triste e desmotivado, e se multiplicam as crises de ansiedade. No trabalho quero sempre voltar para casa e, em casa, quero apenas dormir.
Já há várias semanas que eu não tenho o menor vislumbre do que é viver.
O que é a vida? Não sei a resposta, mas certamente não gosto dela.
"Me submeti às vontades do mundo em que vivo, que se esforça para que todos se esqueçam das lembranças de uma vida com hábitos mais simples, como se fossem uma coisa de mau gosto." (Annie Ernaux)
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