domingo, 1 de setembro de 2024

A Confusão Mental de Cada Dia Dai-nos Hoje


"O início da Instrumentalidade.
O que as pessoas perderam. 
As mentes que desapareceram, afobando-se para preencher o vazio da mente.
A complementação. 
A Instrumentalidade que fará todas as coisas se tornarem inexistência, já começou!" 
(Neon Genesis Evangelion)

Acordei por volta das 5h da manhã, domingo. Tinha deixado a playlist rolando no automático e, quando acordei, começava a tocar The Moon Represents My Heart, o clássico de Teresa Teng, na voz do elenco de Moonlight Chicken, Earth, Mix, Fourth, Gemini, First e Khaotung. Sei que acordo essa hora por causa de um tipo de insônia específica do episódio depressivo, falta algo na produção de serotonina que, numa pessoa normal, seria produzida a essa hora, e então o corpo simplesmente desperta, pulando essa etapa do ciclo do sono. Mas, mesmo assim, acordar ouvindo uma obra-prima dessa, é algo que realmente deixa meu coração melhor. E continuei feliz quando vi que a música seguinte era do Jeff Satur, afinal era uma playlist que mesclava faixas aleatórias com as dele. Talvez não seja um indicativo da melhor saúde, mas certamente foi uma boa forma de começar o domingo. Daqui a pouco já é hora da missa, melhor continuar acordado mesmo. 

Levantei, fui, mas já na missa eu sentia vontade de sair correndo, me esconder debaixo das cobertas, não falar com ninguém. Queria, se pudesse, não ter falado, não ter ficado ali. Não por algo que tenha acontecido, pelo contrário, hoje foi ordinariamente normal, mas eu não estava. Me veio aquele ímpeto contraditório, tanto de me permitir crescer, no sentido de uma personalidade mais expansiva, ao mesmo tempo que queria correr e não precisar mostrar essa personalidade, ou nenhuma. 

Hoje a tarde tem mais uma visita do grupo de jovens ao lar de idosos, e eu queria ir, queria mesmo, tanto pela já conhecida e mais do que válida experiência de contato com a fragilidade humana, bem como a sabedoria adquirida pelas décadas, tão necessária em nossos dias. Mas veio aquele click, me dizendo que eu não deveria ir, que estar lá seria ruim para todos, que não poderia ser boa companhia para eles.

Também poderia me aproximar mais de algumas pessoas, conhecer elas um pouco melhor e permitir que me conheçam também, se o quiserem. Quem sabe aquele moço que sempre passou reto por mim possa se abrir um pouco. Ou eu consiga desfazer a impressão que ele tem de mim. 

Talvez ele não tenha nenhuma e nunca tenha me visto. Talvez ele finalmente possa me ver, e me abraçar e sorrir! 

Mas não será hoje. 

Fui vencido pelo pânico social de um episódio depressivo.

Hoje eu vou me fechar mais uma vez. 

E na semana vou reclamar por estar sozinho. 

É sempre assim. 

Sozinho enquanto sozinho mesmo e sozinho mesmo em meio aos outros. 
Sozinho numa existência miserável, não é mesmo?

Falamos brevemente sobre isso não foi? Como você se sentiu sozinho quando seus amigos foram lá sem você. Também me sinto assim sempre que vejo todos sorrindo e acompanhados enquanto nós nos fechamos cada vez mais. 

Eu fui duro ao dizer que você, mesmo percebendo a miséria ainda nega meu amor que poderia te ajudar, porque o seu amor me ajuda. E você não gosta que tire essas conclusões por você. Mas são amores diferentes, ou ao menos expressos de forma diferente. Eu amo, e digo isso. Você ama. Por não ter uma resposta eu fico perdido demais, e então acabo falando por você, o que é estúpido, mas também é desesperado. Eu só queria que aceitasse que um amor pode ser mais do que uma amizade, e pode sim ser um relacionamento sem um contato sexual, com disse algumas vezes: intimidade não é sinônimo de sexo, eu só queria estar próximo do seu coração. 

Mas eu não sou o único culpado por falar por você, e falar demais. Você também o é por não falar. E não digo falar coisas vagas e de interpretação ambígua, nem mesmo de usar a objetividade para se esconder. Me refiro a falar a verdade, o que sente, como sente, quais são seus limites reais hoje e os potenciais a serem resolvidos. Sinceridade. 

Mas não posso exigir isso. Você nunca pediu que eu o amasse assim. É tudo culpa da minha cabeça, e é justo que eu sofra por deixar esse sentimento me dominar assim. 

Eis o panorama confuso da minha mente: 

Perdido numa igreja cheia de fiéis, chateado por pensar o quão péssimo formador eu sou. Quando as lideranças e coordenações me enviam mensagens do tipo "vamos fazer um mural ao lado do presbitério" ou ainda "vamos fazer dança litúrgica", eu me estremeço e me entristeço. Os últimos seis meses de formação não serviram de nada para entenderem que a liturgia não é feita de inovações criativas, mas de repetições solenes que vão, de modo helicoidal, nos aproximando dos mistérios divinos. A repetição pode parecer um suplício, mas me lembro das palavras de S. Paulo da Cruz:

"Quem me dera descrever 
O tesouro tão divino 
Que o grande Deus Uno e Trino
colocou no padecer."

Ele disse que não conseguiu, mas ainda foi mais feliz do que eu. Eu ouvi S. Paulo da Cruz, mas ninguém parece ter me ouvido, e as invenções não param de chegar. 

Confuso por me sentir sozinho e querer sair, conhecer e falar com mais pessoas. Confuso por saber que todas têm nenhuma ou alguma impressão negativa sobre mim, e que terá um grande muro nos separando. 

Campo A.T. 

Terror Absoluto. 

A barreira definitiva entre as pessoas. 

Confuso por amar, dizer isso e incomodar. 
Confuso por me incomodar com o que não é dito. 
Confuso por querer um beijo e um abraço apertado. 
Confuso porque tudo é complicado demais. 

Confuso. 

Vou dormir. 

Claro que enchi a cara de remédios, 
talvez acorde já à noite e abra uma garrafa de vinho. 
talvez eu devesse ter me esforçado para ir...

"O cigarro mais forte, o whisky mais antigo e o amor mais intenso. Sinto atração por qualquer excesso que possa acabar me matando." (Fernando Machado)

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