Abraço

Qual o valor e o significado de um abraço? 

Hoje me flagrei desejando esse gesto tão simples mais ao mesmo tempo tão poderoso e capaz de despertar tantos sentimentos em nós... Bom, não só sobre ele, claro, pois pensar num abraço é também pensar em carinho, em saudade, em solidão e coisas assim. 

Não é nenhuma novidade dizer que eu gosto de refletir acerca da proximidade entre as pessoas, e como uns e outros podem se entender e fazerem uns aos outros felizes quando se compreendem de fato e que a grande maioria dos problemas que temos uns com os outros só são problemas por conta dessa nossa deficiência na comunicação, onde sempre colocamos os nossos interesses, ou os do outro, em primeiro lugar, nunca conseguindo chegar a uma conclusão definitiva ou ao menos satisfatória, que seja balanceada, comedida. Daí nascem as contendas e desentendimentos e daí também brota a grande maioria dos sofrimentos do coração do homem. Coração esse que teme ser machucado, teme ser abandonado e que quase sempre, na busca de construir uma proteção para si, acaba por excluir o outro de seus arredores, resultando em mais solidão e tristeza. E por isso nosso sofrimento parece não ter fim.

Nossos corações parecem tão distantes uns dos outros que, nem mesmo diante do sofrimento e da dor exposta de nosso irmão conseguimos nos compadecer. Nos recolhemos pra tão fundo dentro de nós mesmos que nos tornamos incapazes de compreender o outro e a dor que ele sente. Em contrapartida, continuamos querendo exigir que o outro compreenda a nossa dor, e que nos ofereça sua mão. Sinal claro desse egoísmo impresso tão fortemente no coração do homem.

Mas, durante a vida, existem alguns momentos únicos onde essa barreira é quebrada. Onde o limite do ego é excedido e nem mesmo os limites de nossa consciência conseguem conter o afluxo de pensamentos e afetos que brota naturalmente daquele momento. Trata-se do abraço. Sim, desse momento tão único e tão especial onde, por breves segundos ou deliciosos minutos duas almas se encontram tão próximas que seus corações quase podem tocar-se um ao outro. Mais do que um contato fisico, trata-se de um contato entre corações, um encontro entre tudo aquilo que há de mais íntimo e puro, e que na maior parte do tempo permanece protegido no dogma central de nossas almas. Um abraço é o encontro de duas pessoas que se amam, que se entendem e que, uma no braço da outra, completa-se no aconchego das curvas do corpo do outro. 

Oh que momento de puro deleite da alma, onde por breves instantes as barreiras deixam de existir e o véu que recobrem os medos e as inseguranças numa capa de fortaleza é desfeito e as pessoas se encontram verdadeiramente como elas são.

Há quem tema o abraço. Há quem não consiga lidar com esse nível de proximidade e que por isso se assuste. Infelizmente há ainda aqueles que se recolheram para um buraco tao profundo que nem mesmo a transposição dessas barreiras consegue os encontrar. É quando acontecem os abraços frios, mecânicos, forçados. Mas quando é verdadeiro e de coração, me atreveria a dizer que esse momento se torna a materialização da força que um amor pode produzir. O que era invisivel e intangível agora se tornou palpável e completamente disponível aos olhos do homem, esses olhos tão impuros e imperfeitos que só conseguem enxergar a superfície das coisas.

Antoine de Saint-Exúpery disse que "O essencial é invisível aos olhos" e de fato ele tinha razão pois, na maior parte do tempo, não conseguimos ver o amor, e infelizmente por vezes nem mesmo conseguimos sentí-lo, mas, no momento do abraço entre duas pessoas que se amam verdadeiramente, esse amor se torna tão óbvio quanto as chamas de uma grande fogueira, e inclusive aquece aqueles que dela se aproximam da mesma forma.

Esse momento também possui um enorme poder curativo. Quantas vezes não ouvimos aquele jargão já bem conhecido nas redes sociais que diz que um dia "encontaremos alguém que nos abrace tão forte que unirá novamente todas as partes quebradas de nosso coração..." Sim, pode ser uma postagem daquelas bem genéricas encontradas geralmente no perfil de pessoas que sofrem por amor e que se encontram num estado de convalescença. Ok. Mas não consigo pensar numa máxima mais verdadeira do essa. Ora, de fato um abraço do amor verdadeiro tem sim o poder de curar aquelas feridas que outrora se encontravam abertas e doloridas. Claro, pode não ser capaz de curar as cicatrizes dessa ferida, mas cicatrizes não doem como uma ferida aberta e só isso já é motivo mais do que suficiente para acreditar que vale a pena buscar um amor verdadeiro. Vale batalhar por esse remédio tão salutar e tão poderoso. 

Particularmente eu gosto de abraçar. Sim, sou grudento e pegajoso, mas só porque desejo tão profundamente esse contato íntimo com aqueles que amo que sinto que quase posso tocar suas almas em momentos como esses e por isso insisto que, nessa nossa geração tão acostumada a dizer e demonstrar seus sentimentos através de mensagens e imagens, deveríamos fazê-lo de forma sensível, tocando diretamente o corpo, o coração e a alma daqueles que são importantes pra nós!

Além de curar, o abraço também pode aproximar. Sim, que maravilhosa ponte entre corações esse breve enrolar de quatro braços pode proporcionar. Quantas vezes não sabemos como dizer algo importante mas que, através de um abraço, nada precisa ser dito e tudo termina como que entendido. Porque a linguagem da alma transcende a palavra dita e assim é um meio de comunicação milhares de vezes mais poderoso que um satélite ou que nosso querido WhatsApp, sim, pois conecta mais do que duas pessoas que se encontram em polos extremos, mas conecta duas almas que se encontram em mundos diferentes. 

Por falar em mundo, esse nosso mundo seria então um lugar diferente se as pessoas conhecessem o poder de um abraço sincero, sofrido, verdadeiro até a última camada da pele... O mundo seria um lugar melhor para se viver. Pensemos nisso, no quanto podemos conseguir e transmitir através de um abraço e quantas pessoas podemos curar e o quanto também podemos ser curados através desse momento tão breve e tão poderoso capaz de quebrar a muralha mais intransponível de todas: a muralha do nosso próprio coração.