quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Simples alegria...

Acho que nunca me cansarei de dizer que a vida é uma caixinha de surpresas... Me pergunto se os mais velhos chegam num determinado momento da vida e deixam de se surpreender com as coisas que os acontece. Espero que não pois ora, uma das maiores graças de se estar vivo é ter com o que alegrar-se inesperadamente.

O sorriso mais gostoso é aquele pelo qual não esperamos, que vem naturalmente e que nos domina sem muito esforço. Uma alegria contagiante... Assim como na Primavera um temporal pode surgIr do nada em meio a um dia claro e iluminado, a luz do Sol também pode dissipar as trevas e brilhar nos momentos que menos esperamos por seu brilho. Assim são as alegrias da vida. Parece que num momento de descuido, ou parte de um de seus planos maiores, o destino resolve nos permitir ter alguns momentos dessa alegria boba, pura, que vem e vai de forma simples, nos deixando mais felizes.

Não é preciso um grande acontecimento pra que essa alegria aconteça. Basta um abraço apressado mas sincero na porta da igreja, ou uma mensagem perguntando pelo bem estar de alguém querido. Ora, me aconteceram essas coisas hoje, nenhuma delas foi nada demais, do ponto de vista do outros, mas para alguém que passa por momentos tão complicados como eu, significou um mundo inteiro de felicidade. 

Talves eu precise aprender a dar mais valor ainda a essas coisas simples mas que têm tanto significado. Penso que eu me preocupe demais em fazer tudo da maneira mais correta possível e preciso aceitar que algumas coisas simplesmente acontecem, independente de minha vontade. Devo agir sempre da melhor forma que puder, ser de fato uma boa pessoa, mas não perder meu tempo provando isso, ou melhor, tentando provar isso. Aceitarei assim que coisas boas e ruins poderão me acontecer, mas que ambas passarão da mesma forma. Devo aprender com as ruins e me recordar com ternura das boas, sem me machucar por não tê-las comigo. 

Me atrevo a dizer então que hoje, embora ainda esteja num barco numa tempestade ainda sem data para terminar, pude vislumbrar um raio de luz, que me deu esperança para continuar a navegar. 

Quem sabe essa tal Alegria não seja algo grande e eterno como costumamos buscar, mas talvez essas pequenas coisas que não nos permitem desistir. Ora, se um professor fica em silêncio durante uma prova importante, era de se esperar que Deus fizesse o mesmo, mas ainda assim, mesmo numa grande provação, seu olhar doce e terno é capaz de confortar e trazer de volta a confiança necessária a superação dos obstáculos. Irônicamente me dei conta disso no dia em que celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz, onde a liturgia nos convida a meditar que a alegria está no sofrer pacientemente e obedientemente, como Nosso Salvador.

A inspiração para essa brevíssima reflexão me veio enquanto editava um texto de São Francisco para uma amiga. O texto era o seguinte: 

CARTA DE NOSSO SERÁFICO PAI SÃO FRANCISCO DE ASSIS SOBRE A VERDADEIRA E PERFEITA ALEGRIA

Conta-se que um dia o bem-aventurado Francisco, perto de Santa Maria dos Anjos, chamou a Frei Leão e lhe disse: "Frei Leão, escreva isto".

Este respondeu: "Pode dizer, estou pronto".

"Escreve o que é a verdadeira alegria: Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris entraram na Ordem; escreve: não está aí a verdadeira alegria. E igualmente que entraram na Ordem todos os prelados de Além-Alpes, arcebispos e bispos, o próprio rei da França e o da Inglaterra; Escreve: não está ai a verdadeira alegria. E se receberes a notícia de que todos os meus irmãos foram pregar aos infiéis e converteram a todos para a fé, ou que eu recebi tanta graça de Deus que curo os enfermos e faço muitos milagres: digo-te que em tudo isso não está a verdadeira alegria".

"Mas Francisco, o que é a verdadeira alegria?"

"Eis que volto de uma viagem no meio da noite, chego aqui num inverno de muita lama e tão frio que na extremidade da túnica se formaram caramelos de gelo que me batem continuamente nas pernas fazendo sangrar as feridas. E todo envolvido na lama, no frio e no gelo, chego à porta, e depois de bater e chamar por muito tempo, vem um irmão e pergunta: 'Quem é?' E eu respondo: 'Frei Francisco'. E ele diz: 'Vai-te embora; não é hora própria de chegar, não entrarás'. E ao insistir, ele responde: 'Vai-te daqui, és um ignorante e idiota; agora não poderás entrar; somos tantos e que não precisamos mais de ti'. E fico sempre diante da porta dizendo: 'Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite'. E ele responde: 'Não o farei. Vai até a cidade e pede lá’. Pois bem, se eu tiver tido paciência e permanecer sem me perturbar, digo-te que aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e a salvação da alma".

Não preciso dizer mais nada não é mesmo?

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