sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Anseios

Bem no fundo do meu coração existe um grande oceano de águas violentas, essas águas se agitam a todo momento em busca de algo que possa alcamar-lhe os ventos furiosos. 

Essa águas impetuosas são os anseios de felicidade que ainda brotam dentro de mim como a água que nasce de uma pequena fonte, mas que consegue se tornar o maior e mais furioso dos rios que continuamente derrama-se no mar, aumentando ainda mais o já imenso volume desse mesmo mar. Esses anseios nascem da esperança por uma vida mais feliz, um mundo mais humano e por um coração que me entenda.

Infelizmente me encontro ainda perdido num mundo caótico que eu mesmo criei mas que sou incapaz de compreender e ainda busco por algo que não sei bem o que é. Penso que seja amor, mas não faz sentido que eu busque por amor pois já o tenho dentro de mim, porque então buscaria eu fora o que tem dentro do meu próprio coração. Essa confusão então se revela nessa antítese de sentimentos que estão em conflito dentro de mim: uma parte que sabe possuir o amor e a outra que o busca incessantemente. Busca sem saber o que quer, e quando encontra algo que condiz com seus anseios, acaba que por modificar seus desejos e continua indo atrás de uma coisa nova. Mas essa busca tem me deixado deveras muito cansado. Caminhar por tanto tempo por lugares desconhecidos, estradas tortuosas em busca de algo que possa preencher o vazio que há dentro de mim. 

Esse vazio é o ar que me falta e me sufoca. Essa imperfeição tem um formato que muda constantemente fazendo com que eu sempre tenha de buscar uma outra forme de a completar. Mas por mais que eu tente expandir a minha mente e abarcar a totalidade da existência, minhas tentativas são todas frustradas uma após a outra, aumentando ainda mais a insegurança e a angustia de uma alma já inquieta. Não sei o que mais devo buscar para preencher esse vazio, não sei mais onde posso procurar por essa resposta, e se todos os homens sofrem com o vazio dessa imperfeição, talvez signifique que não seja possível encontrar uma forma de preenchê-la. Em outras palavras, pode ser que o destino do homem seja o de ter de ficar eternamente a buscar por uma solução, sem nunca a encontrá-la. 

Se assim fosse, o homem deveria encontrar sua satisfação na busca, já que foi criado para essa mesma busca e não para a solução. Logo, deveria sentir-se satisfeito com o fato de procurar por um não sei o quê que o faria feliz. Mas não, é justamente o contrário, o homem deseja justamente o que não pode ter e não dá valor ao que tem. E nessa busca alucinada passa por cima da própria felicidade atrás do conceito que os outros tem de felicidade e assim, busca a felicidade dos outros para si mesmo. Como não poderia deixar de ser, a felicidade do outro é sempre infeliz quando aplicada em nós. Nossa felicidade se encontra pisoteada bem atrás de nós, esquecida pelo tempo que passamos buscando outras felicidades. 

O homem quer então voar até a lua e passear por entre as estrelas. Fazendo desse seu objetivo, ele ignora todo o mundo a sua volta e não consegue perceber que, ao encontrar a felicidade dentro de si mesmo, conseguirá voar e chegar a esse mesmo céu que tanto deseja. Tendo em mãos o martelo dourado, deseja ainda o machado prateado. Ao consegur ambos percebe que não se encontra feliz na alvenaria. Desejar o mundo e todas as suas estrelas para si, mas não consegue compreender nem a si mesmo.

E o homem continua a desejar a felicidade, e esses anseios continuam a brotar dos nossos corações como a água e a formar um grande rio, a derramar-se no mar e a perder-se nessa imensidão azul e triste de anseios de felicidade. Uma felicidade que o homem nunca irá alcançar pois está ocupado demais em buscar no mundo o que há dentro de si e a querer para si a felicidade do outro, que não pode fazê-lo feliz. 

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