quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Contemplação

Queria poder dizer que hoje é um daqueles dias onde posto um texto incrível, que levei horas para escrever até aconseguir atingir um alto nível de expressividade. Um daqueles dias em que coloco uma música no fone de ouvido e automaticamente me surgem mil e uma histórias para contar... Sobres heróis de nomes desconhecidos e amores impossíveis que se tornam realidade... Mas não!

Hoje não é um daqueles dias onde a inspiração flui naturalmente de uma fonte de água cristalina, onde as borboletas vem e dela bebem delicadamente, para depois voltarem a voar pelo ar com seu belo bater de asas. Hoje é um daqueles dias em que, ao contemplar meu próprio interior, tudo o que consigo ver e sentir é a aridez de uma terra seca e sem vida. Não que algo de ruim tenha acontecido, muito pelo contrário, me encontro num momento de minha vida onde tenho sido presenteado com muitas coisas boas. Não, a questão aqui é outra. Trata-se novamente daquele ciclo onde a alma precisa recuperar-se de uma longa batalha através de uma dopada candura e assim, fica meio que inacessivel por um certo período. Como resultado, a inspiração para as belas expressções se vão como a areia no vento. 

No entanto, não fico mais aflito com isso, pois bem aprendi que, para ser alguém que vive de expressar-se através de palavras, tenho de aceitar os momentos em que as palavras são insuficientes para tal. Talvez seja uma crise criativa, ou cansaço pelos estudos exagerados dos últimos dias. Talvez. Mas prefiro pensar que minha musa inspiradora tenha se recohido no fundo de sua fria alcova para repousar ao cair da lua, e ao ressurgir de uma nova aurora, voltará a me inspirar as belas palavras que fluem do meu coração. 

Encaro esse momento como uma jornada interior. Uma experiência em que devo me aventurar por caminhos e terras desconhecidas na busca por mim mesmo e assim, depois de muito andar por agrestes escarpados e campos floridos, eu finalmente aprenderei a dinâmica das estações do meu coração e assim, poderei voltar a falar delas. Talvez possa dizer que, mesmo estando na primavera que começou há algumas semanas, meu coração acaba de recolher-se no frio do inverno, para então, após uma breve hibernação, voltar a correr ao término dessa estação. 

Por hora então minha alma viajará por longíquos países, por terras mágicas e fantásticas, por lugares de criaturas fabulosas, tudo isso na missão do meu autodescobrimento. Ao retornar, um novo homem falará e dará testemunho de sua vida e história. Das aventuras que passou, dos monstros que venceu e das donzelas que conquistou. Esse homem saiu de sua casa durante uma noite escura de amor em vivas ânsias inflamada e agora, busca na criação a solução para o problema da criação. 

Ao olhar por todo o mundo ele busca uma resposta para aquela questão essencial que assusta o homem desde o primeiro pensamento. Uma solução para o vazio que existe bem no âmago de nossa existência e que o homem tenta preencher com todo tipo de coisa desde o início dos tempos. Ele busca uma forma de se fazer entender e de ser entendido pelos outros. Busca uma forma de alcançar a paz sem a necessidade de machucar ou subjugar ninguém. Busca uma forma de expandir-se e assim cobrir a totalidade da existência, e voltar aquele seio primitivo do qual saímos muito tempo atrás e que só nos trouxe desgraça e sofrimento. Esse homem não pode mais viver assim, simplesmente não suporta mais ver os homens matando-se uns aos outros sem motivo, e ele mesmo já não suporta desejar a morte de seus inimigos contra sua vontade. Não faz o bem que quer, mas vive a fazer o mal que não quer e depois disso, cai na amargura. Assim como os homens que se esquecem do amor, e depois que se esvaziam, no vazio se angustiam e vivem a sofrer. Ele não suporta mais isso.

Deseja uma mundo novo, um mundo onde as pessoas se entendam, onde se compreendam e se completem, e para isso ele vai viajar. Vai viajar para conhecer os problemas que afetam a alma desses seres infelizes e tentar descobrir como os solucionar. Assim, abarcando a maior quantidade possível de conhecimento, ele tentará chegar ao dogma final dessa situação e assim, quem sabe, conseguirá encontrar uma solução para essa questão que aflinge o homem desde tanto tempo.

Me perdoem o longo devaneio, mas penso que esses momentos de aridez sirvam justamente para essa reflexão, para essa contemplação interior sobre as coisas que vimos. Quando meditamos, buscamos no exterior algo que possa ser impresso em nosso interior e ai trabalhamos com isso até que aquela coisa se fixe em nosso coração. A contemplação é diferente, pois vem de dentro e para dentro, e assim resulta num momento de paralisia exterior, mas é que só então depois de compreendida a visão dada na contemplação, é que o exterior se tornará apto o sufiente a compreendê-la e assim voltar a derramar-se em prosa e poesia como o faz costumeiramente. 

Dessa maneira portanto, a alma conhece a si mesma de uma forma mais profunda, e aumentando a relação de intimidade entre a mente e o coração, a expressividade ganha nova cor e nova luz ao se lançar ao mundo mais uma vez. 

Pensemos, reflitamos, contemplemos e assim, vamos nos conhecendo cada vez mais e melhor, para só então, conseguirmos compreender e entender o nosso próximo e tentar mudar o mundo!

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