quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Busca

Hoje foi uma daqueles dias em que consegui me dividir em duas pessoas distintas: enquanto a primeira se ocupava dos trabalhos e obrigações acadêmicas, a outra se preocupava em pensar em você. Ao término do dia, acabei por trocar os lugares e deixei que a primeira personalidade descansasse, enquanto me concentrava completamente no que sinto.

Diria que essa foi então uma longa viagem por universos desconhecidos. Desprender a mente do mundo que me cerca e me permitir ser levado sem destino, aos recônditos desconhecidos de minha alma e ali, a milhares de anos luz de qualquer lugar ou pessoa conhecida, me imaginar somente ao seu lado. Não demorei a notar que na verdade se tratava de um longo devaneio, onde, deitado ouvindo música, dei corda aos meus desejos e me permiti sonhar com o mais íntimo de meus anseios: o de ter você comigo.

Não preciso dizer que imaginei mil e uma maneiras de te dizer o que sinto por você, e sinceramente ainda estou pensando em usar de alguma dessas ideias. Não que eu acredite que alguma tenha a capacidade de te trazer pra mim, muito pelo contrário, mas porque guardar esse sentimento dentro do meu coração é mais do que posso suportar e acredito que me livrar dessas amarras tão pesadas seja mais do que necessário, mas também a única forma de conseguir preservar minha lucidez, ou o que me restou dela pelo menos.

Em algum lugar bem distante desse mundo vaga então a alma e o coração de um homem. Ele se encontra sem destino pelo vácuo do universo, sendo movido por seu amor mas sem saber onde esse sentimento irá levá-lo. Ele observa as incontáveis estrelas, asteroides, planetas de todas as cores e tamanhos e muitos outros corpos que ele sequer sabe o nome. Eu seu íntimo, esse homem sabe que procura alguma coisa, mas não consegue delimitar bem o que é. Dentro de si há uma inquietação, como se olhando o universo ao seu redor sentisse que as estrelas quisessem lhe dizer algo, como se cada uma daquelas gigantescas massas de calor quisessem levá-lo para algum lugar e estivessem tentando lhe mostrar o que ele tanto procura. Mas nosso herói não sabe ler as estrelas e nem consegue ouví-las, apenas segue então sem rumo, permitindo que seu amor o guie para algum lugar.

Atravessando galáxias imensas ele vê vida em inúmeros planetas, tantos que até chegou a perder a conta. Observa milhares de mundos onde ele poderia viver, mas nenhum, por mais colorido e feliz que estejam seu habitantes, parece guardar o que ele tanto procura. 

As estrelas continuam a mostrar-lhe o caminho da vida. Em cada sistema governado por uma grande estrela há um planeta onde ele consegue enxergar a vida, e de cada um desses mundos desconhecidos ele se aproxima, em busca daquilo que ele sente faltar em seu coração. Por mais que pare nesses mundos então, ele busca aquilo que ele pensa ser capaz de o completar, mas nada consegue encontrar e então ele parte novamente, em busca de um novo mundo para explorar.

Milhares de anos se passam e ele continua sua busca incessante. Aquele sentimento que dentro de seu coração pulsava muito tempo atrás é hoje parte de sua luta diária e a cada dia, parece que seu corpo sente mais a necessidade daquilo que ele não sabe o que é. Depois de vagar por todo o espaço por mais tempo do que consiga se lembrar, ele resolve voltar a Terra, lugar onde iniciara sua jornada. Quem sabe agora, seu grande tesouro esteja por ele o esperando lá quando voltar... No exato momento em que virou-se na direção do que seria o seu planeta de origem, ele finalmente conseguiu entender o que tanto buscava: como que num passe de mágica a imagem daquela pessoa lhe veio a mente. Passe de mágica pois já fazia muito tempo que ele se esquecera como eram as pessoas do lugar onde vivia e ironicamente ele saira em busca de algo que já havia encontrado. 

Retornando então a Terra ele se imagina ao lado da pessoa amada em cada um daqueles planetas por onde passa. Ele se vê em cada uma das milhares de milhares de paisagens dos muitos mundos por onde passou, muitos dos quais completamente desconhecidos, e se imagina vivendo ali, onde ninguém poderia lhes perturbar. Onde ninguém ousaria jamais os incomodar e onde poderiam viver felizes para sempre. 

Mas a vida é essa grande viagem, e nem sempre estamos certos de nossos destinos e acho que por isso mesmo é que acordei nesse momento. Sendo abruptamente derrubado novamente nessa realidade. Penso se isso seja algo bom, pois não tive de empreender minha viagem de volta e me pergunto ainda se o motivo de ter acordado não foi justamente o de ter a oportunidade de aqui encontrar a coisa que tanto procurei e busquei por entre os milhares de mundos que visitei em meus sonhos. 

No entanto começo a perceber que na verdade não buscava uma pessoa. Sabia onde ela estava durante todo esse tempo! Buscava na verdade a coragem que me falta pra dizer a ela o que sinto. Só de imaginar então essa cena é como se fosse novamente lançado ao espaço, sem conseguir respirar e desesperado. Mas essa minha covardia pode ser justamente a causa de minha morte, pois se eu continuar a esperar dessa forma, não terei outro resultado senão o de outra pessoa confessando seus sentimentos em meu lugar. 

Isso signfica que minha viagem em busca do meu tesouro continua. Continua pois ainda não tenho a coragem necessária para dar mais esse passo. Continua pois o medo de me machucar mais uma vez é grande demais e me sufoca a alma, me deixando desesperado, sem reação alguma, como uma vítima do mundo que procura me esmagar. 

Minha busca continua.

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