terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Santuário de Rosas

Em algum lugar desconhecido duas almas enamoradas passeam juntas sem preocupar-se com o mundo que deixaram para trás...

Em meios a grandes colinas, longe dos vilarejos que as cercam, um grande jardim se esconde dos olhares curiosos das pessoas que não entendem o que é o amor. Alí, em meio a milhares de rosas vermelhas, uma brisa doce carrega o perfume dessas rosas e enche os pulmões de nosso casal apaixonado com a mais doce fragrância, a fragrância do amor. 

Nossos jovens encontraram aquele lugar como um presente do destino. Fugiam dos olhares frios que não compreendiam seu amor. Fugiam daqueles que gostariam de intervir em suas vidas e corações e, depois de andarem por muito tempo em busca de um lugar onde pudessem amar-se sem culpa, chegaram até aquele jardim. Sua primeira reação fora a estupefação: ficaram maravilhados com aquele mar com de sangue que cobria cada centímetro da estrada que conduzia a uma clareira. Esta clareira seria o santuário de seus próprios corações. 

Dentro de si eles tinham a certeza de que aquele lugar só poderia ser encontrado por eles mesmos. As rosas que ali nasciam, eram venenosas a todos aqueles que não eram capazes de amar verdadeiramente. Logo, quem ali chegava sem ser capaz de amar, era inebriado pela doce fragrância das rosas e vinha a falecer. Era a uma fortaleza perfeita, erguida pela beleza da mais bela de todas as flores e, ainda que alguém os encontrasse, sucumbiria ao veneno mortal das rosas que cresciam naturalmente com a bênção do próprio Deus para proteger o amor. Para os apaixonados, a fragrância profunda apenas lhe acariciava os sentidos e os conduziam ao grande santuário onde seus sentimentos estariam para sempre protegidos. 

Numa noite escura então, enquanto todos dormiam durantes as horas dulcíssimas do sono, nosso jovem herói resgatou o seu amado dos olhares atentos dos guardas que o vigiavam através de uma manobra sutil e inteligente. E os dois, pela secreta escada disfarçada, fugiram silenciosamente daqueles que lutavam pelo fim de seu amor. 

Se apaixonaram num dia comum. Enquanto um deles andava despretensiosamente pelo pequeno vilarejo, avistou ao longe um jovem que trabalhava  e por ele se encantou. Tinha feições brutas, embora jovem, resultado do trabalho iniciado desde muito moço. Membros fortes e rijos, cabelos negros que grudavam no rosto devido ao suor e uma pele morena que se encontrava vermelha devido ao esforço e do calor das chamas que usava para forjar as armas que fazia. Do outro lado da rua estava nosso pequeno principe enamorado. De pele lisa e delicada, bem mais baixo do que o outro rapaz, cabelos dourados e lisos que voavam delicadamente a menor brisa e olhos profundamene azuis, de delicado brilho. Bastou que seus olhares se cruzassem para que percebessem o sentimento mágico que ali nascera. 

Não lembram quem tomou a iniciativa de apresentar-se, mas o certo é que, pouco tempo depois de haverem se conhecido, se entregaram completamente aquele sentimento poderoso que nascera de um único olhar, Passaram a encontrar-se as escondidas poucas vezes a cada mês, para que ninguém desconfiasse, mas o amor entre eles era tão grande, que não muito tempo depois os encontros foram aumentando em frequência e quando perceberam, viam-se praticamente todas as noites as escondidas.

Não escolhiam local para o altar de seus desejos. Amavam-se nos fundos da oficina, em alguma rua vazia ou até mesmo em estábulos mais distantes. Tão logo passaram a se encontrar mais vezes, as pessoas que os cercavam começaram a perceber as mudanças que neles ocorriam. O corpo que desenvolvera-se rapidamente sem motivo aparente, e o visível cansaço pela muitas noites acordados dando um ao outro seu corpo e seu amor. 

Um deles, o mais novo, era filho de uma rica família da cidadela e seu pai possuia forte influ:ência política na região e já buscava dentre as famílias mais abastadas, uma jovem dama que pudesse ser sua esposa para também aumentar o poderio e a fortuna da família. O outro, pobre e orfão, fora criado pelo tio e iniciado desde cedo nos trabalhos da fabricação de armas. Espadas, escudos, armaduras. Desde muito novo aprendera a lidar com o metal e suas mãos, embora sendo muito jovem, já possuia os calos e a força de um homem feito. 

Num mundo onde pessoas de diferentes mundos sociais jamais poderiam pensar em relacionar-se, dois homens de classes tão distantes então seria o pior dos pecados. A tragédia iniciou-se quando, numa noite de descuido, uma criança flagrou a cena de amor entre dois dos jovens mais conhecidos da cidade. Um pela nobreza e riqueza de sua família e o outro pela qualidade de seu trabalho. Não tardou que a notícia se espalhasse e logo toda a cidade comentava a abominação dos jovens que, abandonado o interesse pelas mulheres, passaram a cometer um com o outros os atos lascivos da mais alta intimidade. 

O ferreiro fora trancado nos fundos da alforja onde era obrigado a trabalhar por horas e horas sem ver a luz do sol e o outro, mantido em cativeiro pela famíla sem sequer poder sair de seus ricos aposentos. Mas eles não davam importância a nada do que os outros poderiam pensar. A distância não fora suficiente para separar a alma desses dois que, já estando tão unidas, conseguiam falar-se através da linguagem do coração, que não pode ser interceptada de nenhuma forma.

Mas a dor da distância lhes dilacerava a carne e fazia doer até mesmo seus ossos quando, numa noite de lua clara, deram início ao audacioso plano de fugirem sem destino para um lugar onde pudessem viver sem medo nem regras seu amor. Em alguns momentos da vida, quando o amor é verdadeiro, conseque sobrepujar as vontades cruéis do destino e tomar as próprias decisões. Como que magicamente, conseguiram fugir dos olhares atentos de todos e dalí partiram sem nada levar. De mãos unidas e corações batendo no mesmo ritmo, sinal da proximidade que o amor lhes dera, eles caminharam sem destino por entre as colinas. O terreno acidentado e perigoso garantiria que ninguém iria até alí para procurá-los.

Depois de uma noite inteira de caminhada, quando o sol já ia surgindo, encontraram o caminho das rosas. Longe da cidadela, depois de um caminho pedregoso e de complicadíssimo acesso, chegaram aquele lugar pela graça e pela força de seu amor. De certo, qualquer um que quisesse fazer mal a eles, ficaria perdido por entre as pedras ou cairia nos abismos que cercavam aquele lindo lugar. Deram de frente com uma gigantesca escadaria, que parecia ter sido construída a séculos, mas que ainda conservava-se intacta como se tivesse sido feita a poucos dias. Ladeada de grande colunas do mais branco mármore, todo o chão estava coberto de rosas. As Rosas Diabólicas Reais cujo veneno era mortal a todos que eram incapazes de amar.

Nossos jovens apaixonados começaram a subir, inebriados pelo doce aroma que os guiava até o local preparado para eles pelas próprias ninfas do amor. No topo da escada uma grandiosa mansão. Feita de grandes e brilhantes blocos de mármore o local parecia ter sido esculpido pelos próprios deuses. Em seu interior, o piso brilhava ofuscantemente e as parades eram ricamente adornada de pedrarias das mais variadas cores e muitas outras coisas eram feitas do ouro mais brilhante. Olharam o lugar todo por horas e nunca cansavam de deslumbrar-se com cada detalhe que alí encontravam. 

Vasos de cristal com mais rosas vermelhas estavam espalhados por toda a parte, perfumando o lugar com um doce aroma. Cristais brilhante iluminavam o teto com uma luz bruxuleante que mudava de cor com o tempo e ao centro de entrada principal, uma enorme escadaria com detalhes de ouro os levava aos aposentos que, sem dúvida alguma, fora lhes preparado pela própria deusa do Amor, Afrodite, que ali desejava ser para eles o altar onde consumariam para todo o sempre as chamas ardentes de seu amor.

Selaram a felicidade com um beijo e alí, onde nunca seriam encontrados por ninguém, deram início a sua vida de entrega e dedicação um ao outro. Duas nobres almas retiradas do mundo para preservarem ali, naquele santuário, o amor que a humanidade perderia durante os séculos. 

Os deuses sabiam que chegaríamos ao estado em que estamos hoje, incapazes de amar verdadeiramente uns aos outros, e então, dando aqueles jovens a condição de imortais, perpetuariam por todos os séculos o amor que um dia existira de verdade. 

Há quem diga que, quando se busca o amor verdadeiro e silencia-se o coração, onde quer que estejamos, podemos ainda ouvir os gemidos dos amantes que nos garantem que o amor de verdade nunca morrerá. Consegue ouví-los?

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