sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Da história que se repete

Ele apoiou a cabeça sob o meu peito, e minha mão lhe acariciava as costas, de forma consoladora. As lágrimas que durante todo o dia ele segurou enquanto trabalhava ou estudava se libertaram. Correram pesadamente sob sua face negra, quentes, como grandes gotas de chuva a cair no asfalto quente de num temporal de primavera. Se derramou, se desfez num choro silencioso, a mão débil segurando meu braço, a respiração vacilante, a voz fraca...

No meu quarto apenas a luz amarelada dos postes da rua entrava pela janela. Uma penumbra bonita de se ver se formava com o balançar das cortinas provocado pelo ventilador, o ruído desse quase na mesma altura da música, onde um pop rock cantava alegremente em claro contraste ao choro dolorido que no meu braço aquela figura chorava. 

É estranho como os homens se obrigam a parecerem fortes. Como se obrigam a certas situações pelo medo de ficarem sozinhos. Como se apegam a situações absolutamente destrutivas e insuportável apenas pelo medo da solidão, sem perceber que o sofrimento que dali recebem é maior que o de que qualquer solidão.

E essa necessidade os cega, e os torna incapazes de sequer imaginar que algo melhor pode acontecer, se decidirem se livrar das correntes que os prendem a seus amores. E os homens se desfazem em lágrimas, sem saber que poderiam aproveitar também da vida sozinhos, sem dependerem de pessoas que apenas os fazem sentir dor. Não creio que o amor possa trazer tanta angústia assim. Não quero acreditar que o amor, tão belo e poderoso como dizem, possa destruir alguém assim.

Mas, enquanto o amor próprio não for a medida, a carência será responsável pelas lágrimas de incerteza e medo. Enquanto não se puder abrir os olhos para um outro rumo na vida, as lágrimas ainda serão a única realidade conhecida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário