A comitiva chegou silenciosamente, mas nem por isso chamou
menos atenção do que se tivessem trago consigo dançarinas e trombetas. Os
primeiros cavaleiros carregavam grandes bandeiras, com um brasão simples
pintado nelas, bem como os últimos da comitiva. Soldados fortemente armados com
lanças e espadas formavam um grande cortejo que culminava numa carruagem
simples, mas que por estra ali já obrigava nos transeuntes que ali estavam um
certo respeito.
O jovem observava atentamente, de uma torre no hotel que
ficava de frente para o que fora alugado para a comitiva daquele importante
governante. Ficaria ali por uma noite, onde participaria de uma reunião com
homens de negócios e retornaria novamente para sua residência, um pouco
distante dali, do dia seguinte.
Um. Dois. Oito. Doze. A segurança era rígida, e soldados
cobriam cada metro do terreno do hotel que, além do dono e de sua esposa,
contava apenas com alguns poucos funcionários de confiança que não foram
dispensados naquele dia, para cuidar daquele cliente tão poderoso.
Ele observou atentamente a formação dos homens, e percebeu
que mais de uma equipe de segurança havia sido contratada. Certamente alguns
ninjas inclusos e disfarçados entre os soldados. Ao cair da tarde saiu de seu
esconderijo e avançou rapidamente pelos pontos cegos que conseguira
identificar. A cada hora os soldados trocavam de lugar e nessa hora alguns
minutos entre um ajuste de posição e de armadura davam a ele a abertura
necessária para silenciosamente conseguir entrar e esperar no depósito de
alimentos, que ficava no fundo do estabelecimento.
Aguardou pacientemente até que anoitecesse, atrás de uma
alta pilha de sacos de arroz. Observando pelas frestas da porta de madeira
cruzada que dava para o pátio dos fundos, onde os funcionários certamente
deveria ficar nos dias mais quentes. Sabia que durante a noite o número de
serviçais deveria ser ainda menor.
Uma moça pequena avançou para pegar água no poço que havia
ali, e enquanto o balde se enchia de água na pequena torneira que havia ao lado
do poço, ela foi em direção ao depósito. Era a hora. Rapidamente ele avançou,
silenciando-a com um golpe certeiro com a palma da mão em seu flano, fazendo a
cair debilmente como uma boneca de trapos em cima dos sacos de arroz, que
abafaram a queda. Ele a amarrou e amordaçou depois de lhe tirar o uniforme, um quimono
rosa cheio de flores coloridas, que serviu justamente. Sua aparência feminina,
delicada e esguia, seria ideal para enganar os soldados e se passar como
funcionária do hotel.
Esperou pacientemente até que sua presença lhe fosse
solicitada, fugindo dos olhares dos outros funcionários, que saberiam que ele
não fazia parte do número dos responsáveis pelo estabelecimento, mas sem se
importar com os soldados, que não o conheciam de qualquer maneira.
O chá da noite fora servido numa porcelana fina, mas os
soldados não permitiram que ele se aproximasse do casal que ali se hospedava.
Deixou a bandeja no chão, próximo a porta e se afastou, para que o responsável
se encarregasse de entregá-la ao seu senhor. Quando se ajoelhou, uma parte de
sua perna se tornou visível pela abertura do quimono, o que despertou o olhar
de dois, dos quatro, soldados que ali estavam. Era suficiente. Quatro soldados
na antessala que dava para o quarto dos hóspedes ilustres e mais seis na antessala
seguinte.
Mais do que rapidamente ele lançou uma pequena pedra na
lâmpada acima de suas cabeças e num movimento rápido sacou a wakizashi
escondida nas dobras de suas vestes, avançando em direção ao quarto.
Lançando-se no ar e rodopiando derrubou os dois soldados que
estavam mais próximos a porta, e com uma cambalhota entrou no quarto, esperando
apenas alguns segundos para acostumar-se com o quarto e para identificar seu
alvo. Com apenas um salto ele chegou a cama, onde seu alvo assustado o
encarava. Estava nu sobre a cama, e tentava alcançar uma faca, provavelmente
escondida embaixo das almofadas. Tolo.
Antes que o governante percebesse o seu assassino estava
sobre ele, com um joelho apoiado sobre seu peito e a espada curta na garganta.
- Tenho um recado para você, maldito - sibilou como uma
serpente - sua família nunca mais vai interferir em nossos negócios.
A essa altura os soldados desbaratados já haviam entrado no
quarto. Ele cortou a garganta do homem rapidamente, e logo se lançou para trás,
girando num salto por sobre o corpo que jorrava sangue quente. Encarou os
soldados que lotavam o cômodo e sabia que o número deles ali o impediria de
escapar.
- Avancem! - Uma voz jovem e firme gritou, e o assassino
sabia ser de um dos soldados cujo olhar brilhara ao vê-lo ajoelhado segundos
antes.
Ele derrubou dois dos homens lançando-se no ar novamente com
a fluidez de uma pluma, e partiu ao meio a lança de um terceiro. Mas só teve
tempo de dar um salto para trás quando uma lança penetrou fundo em sua coxa,
enquanto outra entrava eu seu ombro logo em seguida.
Urrando de dor ele se ajoelhou, a perna ensanguentada
tremendo, e fitou com ódio os soldados que o olhavam assustados. O homem
responsável por dar as ordens saíra do quarto, gritando para que mais soldados
fortalecessem o perímetro e que fossem verificar se seu senhor estava bem, no
outro quarto.
Era uma última proteção, ele matara provavelmente um
soldado, enquanto seu senhor estava em outro quarto, provavelmente não tão bem
guardado, para evitar suspeitas.
A confusão dos momentos seguintes não distraiu o pequeno
assassino, disfarçado de empregada, de sua dor lancinante na perna e no ombro.
Decidiram que a comitiva partiria imediatamente, temendo novos ataques.
Enfaixaram toscamente suas feridas enquanto o amarraram, pois seria levado para
interrogatório na mansão do senhor, para descobrirem quem fora o mandante
daquele atentado.
Disputas de poder são comuns, principalmente entre famílias
que possuem grandes ambições e pouco, ou nenhum, escrúpulo. Assassinatos são
comuns. Contratar mercenários e ninjas é tão normal quanto vender e comprar
para aquela gente. Os assassinos não são mais do que meras ferramentas, que
emprestam seu corpo e suas técnicas letais em troca de um soldo gordo. Essa era
a realidade, o pequeno ninja pensava enquanto era lançado numa carroceria de
ferro que lhe seria sua prisão até que chegassem na mansão.
Fora lançado no chão metálico com violência, fazendo reabrir
os ferimentos causados pela lança. O chefe da guarda, que ele reconhecera pela
voz, mandou que ficassem atentos a qualquer movimento. Ele notou um olhar de
deleite no homem, antes que lhe fechassem as portas da carroceria a sua frente.
Infiltração concluída com sucesso!
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