sábado, 13 de julho de 2024

A Escolha de Amar

"Não importa quantas vezes eu tenha que escolher, eu sempre escolho a mesma coisa." (My Stand-In)

É sábado a noite, chove sem parar desde cedo, parece que a cidade toda está chorando. Ou talvez seja apenas eu. 

O amor é uma escolha, talvez não do tipo imediata, como se olhássemos alguém e decidíssemos amar. Pode ser também, mas, em geral, o amor é lenta e pacientemente construído, não raramente trata-se de uma decisão que só é percebida quando já tomada e levada às suas últimas consequências. 

Escolhemos amar, escolhemos construir esse sentimento, escolhemos deixar o outro se aproximar, lentamente, e ir a conquistar espaços, quase ao modo do Príncipe e da Raposa do livro de Saint-Exupéry. Escolhemos permitir que o outro cative algo de nós, e nos tornamos cativos de seu olhar.

Mas o amor também é uma decisão do outro. Também é escolha dele tomar posse do sentimento que ele fez nascer, e deixar-se ser amado. Como também é escolha dele não fazer nada, ficar em silêncio e simplesmente não corresponder.

Em alguns casos a escolha do amor pode ser bela, apesar de dolorosa, como o Jo que sempre escolheu voltar para o Ming não importando o quanto aquele relacionamento já o havia machucado: ele sempre escolheria amar Ming. 

Em outras ocasiões pode não ser assim, em outras ocasiões, sendo uma escolha, o amor pode vir de apenas uma das partes, o amor pode acabar se perdendo na indiferença, o amor pode ser uma escolha em que o amado pode escolher não amar. 

No íntimo, naquele ponto em que ninguém mais pode ver, o homem pode assentir ou não ao amor, pode-se escolher... Pode-se escolher o amor da vida ou pode-se escolher lutar contra esse mesmo amor, como se ele nada fosse ou como se fosse um inimigo a ser aniquilado. 

Eis a parte mais complicada. 

Só queria eu, amante inveterado, ser capaz de escolher não amar também. Mas ao que me parece não me foi dada essa escolha. 

Sou condenado a amar.

Mas o amor é uma escolha. E jogá-lo fora também o é. Não era pra ser, porque uma escolha disse que assim o seria.

É sábado a noite, chove sem parar desde cedo, parece que a cidade toda está chorando. Ou talvez seja apenas eu. 

"Somos parecidos"

Não é verdade. Eu escolhi amar e agora estou preso a esse amor. Em contrapartida, fui descartado. 

É sábado a noite, chove sem parar desde cedo, parece que a cidade toda está chorando. Ou talvez seja apenas eu. 

Realmente somos parecidos. 

Ambos escolhemos sofrer. 

Você por não me amar e eu por insistir em amar você.

Acho que sentimos, mesmo à distância, o perigo do lugar para onde a conversa poderia nos levar, e que causaria ainda mais dor em ambos. O silêncio foi nossa melhor escolha.

A chuva caiu mais forte por alguns minutos, acho que eu deveria tentar dormir, já passam das três da madrugada, mas agora não restou nem mesmo uma garoa, apenas as gotículas de água refletindo a luz dos postes na rua. Ainda parece que a cidade toda está chorando, ou talvez seja só eu.

Bobo. 

Somos parecidos.

~

PS.: amanheceu um domingo choroso, triste, cinza. Mas algumas palavras e um abraço ao fim da missa me deixaram ligeiramente mais contente. Sorriso e abraços simples. Volto pra casa para dormir, talvez com a sensação do corpo dele contra o meu, talvez me acalentando, mesmo sem que ele o saiba. 

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