quinta-feira, 18 de julho de 2024

Esperando

Rembrandt, “Study of an Old Man”
"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser."
(Alberto Caeiro)

Até cheguei a sentar e colocar algo para assistir, mas acabei desistindo depois de uns trinta minutos, decidi simplesmente ir dormir. É essa a vida eficiente que todos esperam: que consiga dar conta de todas as demandas, todos os dias, independente das dificuldades, sem descanso, sem folga, e sem conseguir nem mesmo ficar algumas malditas horas acordado depois que chego em casa. O tempo de descanso é tão miserável e a qualquer sinal de queda de produtividade, já vêm as críticas, as cobranças. São todos patéticos, todos eles. 

Com essa euforia eu me sinto um idiota, imparável, com ideias que não se aquietam nunca. Gastos e mais gastos, sem parar, sempre afundando mais e mais. E o vazio, que não para de aumentar nunca. Apenas vazio. E como falar de vazio quando tudo parece girar freneticamente o tempo todo? Parece tudo menos vazio, mas não o é. Justamente por ser vazio, o que parece preencher é apenas o meu lancinante e quase permanente grito de pavor diante da existência. 

Permaneço e profundo contato com o vazio do amor que acabou. Acabou comigo, no caso. Foi Edgard Abbehusen que disse que "todo dia alguém deixa de amar alguém por não se sentir cuidado." Mas a verdade é que eu já sabia, sabia que o sentimento era apenas meu, e eu deixei crescer, crescer demais, a ponto de se tornar um vácuo tão poderoso a me destruir, a me consumir. 

O amor que acabou, no entanto, não foi o amor por ele, mas o amor que eu era capaz de sentir. Olho para os rapazes bonitos agora e não sinto mais nada além do desejo de tê-los longe de mim. A solidão se tornou tão comum, mesmo sendo tão assustadora, que agora é minha única companheira inseparável. Nenhum deles fica. Aquele me beijou o alto da cabeça se foi, o que encontrei no ônibus e abracei há alguns dias, se foi, todos se foram. E acho que não posso amar mais ninguém. Mas já cheguei a pensar que nunca mais amaria também. Mas nunca foi assim, tão puro, tão verdadeiro, sendo que antes era apenas obsessivo, me deixava doente, agora quando penso nele fico feliz. Talvez eu não consiga amar outra vez. Ou talvez não consiga amar outro. Não agora. E bem que ele ficaria feliz em se ver livre de meu amor que é um grande estorvo. Imagine só, o amor de um maníaco-depressivo!? Louco e alucinado.

São dias caóticos. Na semana passada eu faltei um dia de trabalho porque a depressão simplesmente não me deixou sair da cama, e nem responder mensagens eu conseguia. Hoje, por outro lado, estou acordado, desperto e atento desde às quatro da manhã. Cheguei duas horas mais cedo no trabalho, fiz um empréstimo e gastei tudo em menos de uma hora. 

É sempre assim, esse descontrole total, ou depressivo, pessimista, querendo morrer a todo instante, descontente com tudo e todos ou assim, inconsequente, super eficaz e fazendo todos pensar que eu dou conta de tudo, quando não dou. Não dou conta de nada, é simples assim. 

E ainda tenho coragem, depois de tudo, de me humilhar perguntando se ganharia um beijo. Assim como não ha limites para as mudanças de humor, também não há para o quanto esse meu coração pode se humilhar. Droga.

As cobranças não param de chegar, nunca, nunca. Mas eles não respondem, não se responsabilizam, não dão a cara pra bater, aparecem, sorriem e acenam e vão embora. Os homens são ridículos e ainda querem que sejamos gratos por toda essa porcaria. 

Gratidão! Que coisa mais absurda! São todos ridículos, patéticos, miseráveis!

Por isso meu semblante, embora não o percebam e talvez achem que sou apenas estranho, é de um velho moribundo, sempre à espera da morte, esperando, cabisbaixo, desiludido e cansado. 

Dessa vida. 

Do amor. 

De tudo. 

Até quando ainda? 

"A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade." (Friedrich Nietzsche)

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