sexta-feira, 19 de julho de 2024

O Perfume de Ylang Ylang

A dor lancinante de lutar contra os próprios sentimentos, de não aceitar aquilo que há por debaixo das aparências imediatas. A dor de esperar cem anos e não encontrar a sua amada como esperava. Essa trajetória mostrada em Century of Love tem me encantado. Como o corpo de San responde à ausência de Wee agora que ele o encontrou, depois de o ter esperado tanto tempo. Mas ele ainda não aceita, não aceita, embora saiba que, na verdade, está apenas negando aquilo que sabe no íntimo de seu coração desde que viu o jovem pela primeira vez: ele é a sua amada! 

Não demorará muito para que o sorriso doce desse rapaz tão novo, mas que já sofreu tanto, possa conquistar o ancião que ainda tem aparência de jovem moço irritado. E ele aceitou as desculpas assim, com algumas latas de cerveja e um momento de companhia na sacada. Quem sempre teve pouco e sofreu muito tende a ser feliz na simplicidade, e ama com a sinceridade de corpo e alma. Wee vai ensinar o San que esperou e se amargurou a sorrir de novo, e San vai ensinar a Wee a transcendência do amor. Apesar de todas as tragédias e percalços que ainda vão acontecer, o coração de ambos já está entregue. O pequeno Wee ainda vai se machucar e San pode continuar a teimar até perceber e aceitar e abraçar com toda vontade, espero que não tarde demais, que o garoto que o irrita tanto é, na verdade, a sua amada. 

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O cheiro intenso e exótico de Ylang Ylang se desprende do meu colar, e eu espero que ele possa me ajudar a superar essa fase de mudanças de humor. Fico na expectativa de que ele diminua a tensão e me ajude a relaxar nesses dias de intensidade hipomaníaca. Dizem também que é afrodisíaco, nesses dias me vejo sem nenhuma reação desse tipo, ou seja, todo meu corpo se encontra em desequilíbrio. Apelo então para todas as possibilidades. É como se buscasse refúgio nas pétalas dessa pequena flor, na sua delicadeza, no seu perfume...

Teria a flor de Ylang Ylang, em seu exótico perfume, nojo de mim, de quem sou e de minhas práticas como você? Teria a flor de Ylang Ylang o odor capaz de me tornar homem de novo? Mas sendo homem você teria nojo de mim. O que eu posso fazer então senão fechar os olhos e me concentrar nessa inebriante fragrância na débil esperança de que ela me arranque do torpor?

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Talvez tenha chegado a hora do derradeiro fim, de colocar um ponto final nessa história que há tanto se estende e que ninguém mais lê. Não haverá triunfo do herói que, vitorioso, se ergue dos escombros pisado sobre os corpos de seus inimigos. Não. Só o que posso fazer é desejar que, assim como tem sido essa minha longa vida, que eles tenha uma morte eterna e dolorosa. Só posso me entregar a imaginar a sorte de tormentos que eles merecem. Talvez Dante os tenha descrito melhor, mas imagino algo como tendo sua pele arrancadas por tenazes incandescentes por um tempo sem fim, o que é mais ou menos o que sinto todos os dias. 

Quero chegar em casa, entregar as coisas que comprei para minha mãe, ver um episódio do BL mais recente dos Fourth e Gemini tomando algo doce na caneca cor de rosa que fiz deles e depois encher a cara com todos os remédios que tenho. O que mais querem de mim? O que mais querem arrancar de mim? Não quero mais, não aguento mais ouvir nem uma palavra sequer, nem uma cobrança estúpida, nem uma ideia idiota, nada mais, eu não quero nada mais. 

Já não sinto mais o cheiro das flores de Ylang Ylang, tudo se desfez em rancor profundo, é tudo escuridão. Tudo escuridão. Não vejo saída, apenas o fim.

Sei que eu sou fraco. Não aguentei essa vida. Podem me chamar de covarde, de extremista, não me importo. 

A caneca cor de rosa será usada só uma vez. As que comprei para usar na máquina de café nem isso, ou talvez as use pra tomar com os remédios. Os livros e óleos que estão para chegar nas próximas semanas, bem, não sei e não me importo, ninguém se importa mesmo. 

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