domingo, 28 de julho de 2024

Aforismos

"Mas quando nada mais subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício da recordação.(Marcel Proust)

Não sei porque em algum ponto de mim ainda restava um resquício de esperança de ser reconhecido e recompensado. 

Besteira. 

Os idiotas que me rodeiam só enxergam outro idiota. Deus como essa sociedade sobrevive com tanta imbecilidade? Deus, por qual razão deste seu Filho único por nós? Nenhum de nós merece salvação, pelo contrário, olhando bem, pro meu íntimo, e para todos que me cercam, penso que mil infernos ainda seriam pouco para o que merecemos. Tamanho nosso desprezo, tamanha nossa baixeza. Os homens são criaturas vis e insignificantes, não merecemos um salvador, Satanás é o único que deveria ter alguma influência sobre nós, a bondade tendo passado bem longe de nossos corações, incapazes de fazer ou até mesmo de reconhecer o bem. Somos monstros, piores do que demônios, pois nem o conhecimentos destes possuímos. O homem é nada, e deveria se contentar em voltar ao nada, mas não, continuamos, de geração em geração, dando continuidade a essa humanidade maldita.

E me odeio por perceber as tantas vezes que me esforço para ser reconhecido por pessoas tão toscas, tão baixas, tão... 

Sou peixe de águas profundas. E solitárias. Nado sem rumo, em busca de algo que não sei o que é, e quando passam por mim, riem de eu continuar nadando. É que se fecho os olhos e penso em alguma coisa, só consigo vislumbrar as profundezas desse oceano, água obscuras que não consigo ver nada. Essa é apenas a imensidão do que sinto, quando me afogo em meus próprios sentimentos, em meu próprio amo. Não os culpo, os que me olham como alguém que sente em vão, que ama em vão, que apenas se machuca em vão. Também acho que continuo nadando em vão. Se vou morrer de todo modo, devia parar aqui mesmo, e só esperar pelo fim. 

Não é?

Sou muito onde há pouco. 

Expressão tosca com feitio de frase feita por adolescente idiota, do tipo de que lê Rupi Kaur e acha o máximo. Talvez eu também achasse, não tenho muitos critérios. Sou muito sentimento, muitas palavras onde deveria haver silêncio. Julgo conhecer e compreender quando, na verdade, não conheço, apenas arranho a superfície de oceanos que me são repletos de segredos, mistérios insondáveis... 

Eu sou um grande idiota.

Eu estou francamente cansado de todo mundo.

As pessoas não gostam de carinho, nem de aproximação, nem de contato, não gostam que seja muito amigável porque é muito intrometido, não gostam que seja quieto porque é metido. Mas ainda exigem que gostemos delas, mas não demais. Só que eu não quero mais gostar de ninguém. 

Eu estou francamente cansado de todo mundo. 

Inclusive de mim mesmo.

Fico pensando num amor inexistente. Me distraio por alguns minutos com o rapaz bonito que vi tocar saxofone no lançamento de um livro de poesias, mas logo o esqueço, e descubro que é casado. Minha mente volta. O coração não estremeceu nem um pouco, continuou amando, e sendo machucado, pelo silêncio, pelas esperanças infundadas. 

Meu amor e minha melancolia são minhas constantes. 

Recebo palavras hostis e um olhar pouco amigável, já me fecho em mim mesmo, esperando a aprovação daquele garoto que provavelmente só me despreza e eu nem sei o motivo porque nos vimos pouquíssimas vezes. 

Torno a pensar no oceano profundo, ponho a mão no peito, sinto o calor do meu sangue a pulsar...

"É assim com nosso passado. Trabalho perdido procurar evocá-lo, todos os esforços de nossa inteligência permanecem inúteis. Está ele oculto, fora de seu domínio e de seu alcance, em algum objeto material (na sensação que nos daria esse objeto material) que nós nem suspeitamos. Esse objeto, só do acaso depende que o encontremos antes de morrer, ou que não o encontremos nunca." (Marcel Proust)

Nenhum comentário:

Postar um comentário