sábado, 20 de julho de 2024

Quase

Hoje eu quase tirei a minha vida. E ainda não descartei essa hipótese. 

Não consegui pensar direito o dia todo, mudava de assunto, corria de um lado a outro desbaratado. Me tranquei no banheiro sujo e deitei no chão para chorar, engoli a comida de qualquer jeito, como um animal faminto. 

Se fecho os olhos ainda me vem o gosto amargo que queria fazer sumir. Era tudo que eu queria, sumir. Queria chegar em casa e tomar todos os remédios, deitar e dormir, mergulhando na escuridão profunda. Para sempre. Foi apenas nisso que pensei o dia inteiro. 

E ainda quero isso, esse é o meu desejo profundo, desaparecer, nunca mais voltar aqui, não ficar nesse lugar apertado resolvendo problemas que não existem. Queria, de todo o coração, que a morte me levasse hoje, para qualquer lugar. Que me açoitasse, que me flagelasse até arrancar a pele de minha carne, qualquer coisa, qualquer dor ou sofrimento deve ser melhor que esse inferno. E digo isso consciente de ser uma inverdade inventada pela minha depressão, mas nem por isso deixo de pensar. Como eu queria desaparecer! Mas hoje eu sobrevivi a um dos piores dias da minha vida, só não sei se isso é algo bom.

Passou a noite, mais um dia, e hoje é sábado, o último dia da criação. Em mim permanece, no entanto, o ímpeto da destruição. Um vazio que se tomou conta do meu ser. O esperar pelo fim se tornou minha única esperança. Coisa contraditória a se dizer da esperança, talvez, mas já cansei de buscar o que é certo. Já não busco mais nada, e talvez busque o fim, o longe e a miragem. 

Busquei refúgio no sono, no álcool, no sorriso doce do querido Fourth que, talvez ontem, foi meu herói. Como criança, eu olhava para ele e sorria, no escuro, ainda no escritório, os olhos marejados, enquanto encontrava alguma força para simplesmente ir embora. 

Ontem foi um dos dias mais difíceis da minha vida. Minha cabeça rachada e vazando apenas esse líquido viscoso: a vontade de morrer.

Mas eu sobrevivi. 

Só não sei ainda se isso é algo bom. 

Eu sobrevivi. 

Sobrevivi?

"Sou um homem comum
       de carne e de memória
       de osso e esquecimento.
       Ando a pé, de ônibus, de táxi, de avião
e a vida sopra dentro de mim
       pânica
       feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
       cessar."

(Ferreira Gullar)

Um comentário:

  1. Nunca me senti tão representada, única coisa que n é meu refúgio é o álcool, mas n dúvido nada que em algum momento eu mude de idéia e comece a fazer disso um refúgio também.

    ResponderExcluir