só o travesseiro
a bebida
e os remédios
estiveram comigo.
Não espere
que eu ligue tanto
para sua presença
Sobrevivi todo o massacre sozinho"
Esse é o motivo do meu silêncio prolongado, sempre estive sozinho, então agora percebo que não há nada tão importante assim a ser buscado ou preservado. Amigo se vão com a mesma facilidade e rapidez com que chegam. Amores? Duvido que existam. Por isso fico em silêncio, não há nada muito importante que precise ser dito, ou que queiram ouvir.
Não há muito mais que dizer além da constatação de minha solidão: como um ancião que vive sozinho em sua choupana, acendo um velho candeeiro e coloco sobre a mesa, olhando dali para fora, as estrelas que estendem infinitamente acima do orbe, sem que possa dizer a ninguém o que acho daquela visão. O olho não deve durar mais do que alguns dias, mas as minhas forças também não. O manto da noite então será a única testemunha de quem perecerá primeiro: a vida desse velho ou aquela luz trêmula. A disputa é acirrada, o óleo barato queima e desprende no ar um cheiro ruim, o velho, cujo nome todos já se esqueceram e há tanto vive ali que ninguém sequer imagina que naquele lugar haja uma pessoa, já se esqueceu ele mesmo seu nome, nunca mais o disse a ninguém. Quantos anos se passaram ali? Trinta, quarenta? O próprio tempo parece passar de um jeito diferente quando se vive longe dos homens, quando a humanidade passa sem notar sua presença.
Aquilo que não tem nome, não existe. De um lado há a porta que dá para vastidão de Nix, do outro um grande e velho espelho, marcado pelos tempos imemoriais, quantas imagens já devem ter sido refletidas nele? E agora, diante do espelho, sem reconhecer o velho à minha frente, eu me pergunto: quem sou eu? Olho para o lado e vejo a pequena chama começar a se esvair.
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