sábado, 6 de julho de 2024

Sábado de melancolia

Sábado nublado, dia de pura melancolia em que as nuvens declamam Schiller, Pessoa, Moraes e Dos Anjos. Cânticos de amores não correspondidos, de destinos infelizes e tristezas profundas. Disseram-me que o frio é incômodo, discordei em silêncio. Me sinto confortável no frio, em dias que favorecem o silêncio, mas concordo que esses dias não cantam os versos de Homero, não, os guerreiros lutam ao sol, os homens tristes escrevem sob a sombra.

Vim mentalizando essas palavras, enquanto passava pela cidade, silenciosa, dormindo depois de mais uma semana interminável de trabalho. Essa cidade tem uma aura cansada, uma combinação da melancolia constante das nuvens e da grande quantidade de fábricas na região, todo mundo parece sempre cansado, querendo chegar em casa e dormir o máximo possível. Não observo, por exemplo, aquela vontade das pessoas que via em Brasília, de chegarem e saírem para beber no fim de semana. No fim de semana todos aqui querem ficar quietos na cama e se esquecerem do fato que precisam acordar cedo e dispostas no dia seguinte. Não parece uma vida fácil.

O que me intriga um pouco é que todos parecem sempre nervosos, irritadiços, o tempo inteiro. Não creio que seja essa a influência dos colonizadores alemães, mas uma consequência dessa rede de trabalho incansável que, no entanto, faz com que todos estejam sempre cansados demais, por isso todos estão sem paciência. 

Não posso dizer que estou infeliz hoje. O dia está lindo assim e, claro que eu adoraria poder ficar um pouco mais deitado ou vendo filme tomando chocolate quente, mas não posso reclamar da manhã calma e silenciosa. Gosto da paz, do silêncio, do aparente vazio que incomoda os outros, os outros que chegam falando alto e animados por mais um dia, o vazio que incomoda os outros mas que é a única coisa que eu tenho. Talvez ao ver o vazio que ha dentro e fora eu me sinta mais confortável. 

Gostei de ouvir sua voz ontem, e de me encontrar no seu silêncio e no seu cansaço algumas respostas que procurava. Sinto que poderíamos ficar em silêncio na companhia um do outro. Acho que isso também é uma resposta para muitas perguntas que eu não sei se você chegou a fazer. 

"No fim, cada um tem uma coisa muito própria que não pode dividir com mais ninguém." (Hermann Hesse)

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