quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Da alta contemplação

Mais uma vez cá estou eu buscando compreender um pouco mais sobre essa complexa cadeia truncada que são as relações entre eu e o outro. Relações essas que, sendo entre dois mundos diferentes, é permeada de uma infindável miríade de detalhes, símbolo da nossa complexa personalidade. 

Eu hoje vejo o outro como um mundo, mas que não pode ser explorado. O outro é um mistério. E a medida que eu venho tentando me desvendar, acabo por me isolar cada vez mais nos umbrais de minha própria consciência, me tornando cada vez mais exigente com o outro que me rodeia. 

Isso me soa um tanto quanto orgulhoso, mas a medida que vou me relacionando me sinto cada vez mais distante do outro, e olha que nunca me senti realmente próximo a ninguém, a diferença é que agora eu tenho ciência do que é que me afasta do outro. 

Eu vejo as pessoas se iludirem em suas falsas crenças de verdade, eu vejo a puerilidade de suas visões do mundo, vejo o mundo minúsculo em que vivem e que tentam me forçar a caber ali, e fujo. Fujo pois não quero viver nesse mundinho fechado, inconsciente, ditado pela mediocridade endêmica que domina suas mentes pequenas. Não, eu sei que minha mente é distorcida, mas não é pequena!

Eu olho ao meu redor e vejo as pessoas tão felizes com suas vidas, e mesmo que eu deseje a felicidade, a perspectiva de que para isso deveria me fechar num mundo tão pequeno quanto o dele me apavora. 

Vejo pessoas que não fazem ideia da existência de uma música melhor do que a que escutam, pessoas que acham que sertanejo universitário é o suprassumo da arte, pessoas que tem na novela das nove a sua ideia de atuação e que acreditam que museus são realmente só um pretexto pra acumular coisas velhas com as quais ninguém mais se importa o suficiente pra guardar em suas casas mas também não tem coragem de jogar fora. 

Essa barreira cultural, que os torna incapazes de saber o que é um bom livro, uma boa música, me apavora. Me apavora pois sendo um apaixonado pela beleza, e encantado com a contemplação do bom, do belo e do verdadeiro, não posso cogitar a ideia de me prender num mundo feio como o deles. Já não bastasse a feiura que sou obrigado a ver todos os dias desde o amanhecer, se não fosse meu contato com o "mundo lá fora" estaria eu igual a eles, completamente cego.

E como então prosseguir? Acho que se trata de uma opção, uma decisão. Viver para contemplar o bom, o belo e o verdadeiro, ainda que sozinho. Quem sabe se me manter firme assim, consiga encontrar pessoas que busquem o mesmo que eu. Aliás, já as encontrei. Cada vez que que leio um bom autor, ou que escuto uma bela composição, eu me coloco no mesmo plano das grandes mentes que as criaram, e ali me encontro como pessoa. É com esse tipo de gente que quero me relacionar, é esse tipo de gente que quero ser!

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