terça-feira, 28 de agosto de 2018

Sobre ser incapaz de qualquer coisa

O que eu devo fazer agora, nesse exato momento? Minha cabeça dói e eu não consigo mais assistir a nenhuma aula hoje, cheguei no meu limite intelectual. Não quero ler, ou melhor, não tenho interesse em ler nada do que tenho aqui comigo. Até a música no player me incomoda. Mas eu também não quero ficar deitado, pois sei que assim que me deitar e fechar os olhos, vou pensar nele, e aí eu vou ficar (mais) triste do que já estou...

Eu preciso de um rumo na minha vida, um norte. Preciso de um objetivo, pois viver um dia após o outro, sob a pura aglutinação de problemas e paranoias não tem sido a melhor forma de viver. Na verdade eu me vejo como uma plantinha, eu fico por aí, existindo, me movendo conforme o vento ao meu redor me movimenta, mas sem fazer mais do que isso.

É uma existência patética. Eu me olho no espelho e sinto nojo do que vejo. Vejo um homem desprezível, incapaz de realizar o que quer seja, cujos gritos de desespero são tão desprezíveis que sequer merecem ser ouvidos pelas pessoas que estão dentro de minha própria casa. Vejo um homem incapaz de trabalhar, incapaz de buscar uma vida melhor, mas que ainda assim sonha com uma vida de luxos e prazeres. Vejo um homem cujo amor é incapaz de tocar o coração do amado, e que por isso chora, chora copiosamente quando se lava, quando se deita e quando o vê, seja numa foto ou quando recebe sua visita.

E as minhas lágrimas se transformam em palavras que aqui as despejo, como se fossem meu sangue, como se fossem o sangue que todas as noites anseio em derramar para pôr fim a essa existência. Mas nem isso sou capaz de fazer.

E continuo aqui, mas será que faria alguma diferença se não estivesse? Continuo aqui, ocupando espaço, respirando, mas é só o que se pode dizer de mim. Não creio nem mesmo que as aulas que diariamente assisto sirvam para alguma coisa. Meu intelecto débil, quase primata, não retém as coisas como gostaria, estou tão distante de ser como gostaria que começo a perceber que não passaram de (outros) sonhos infantis e sem nenhum fundamento na realidade. Não sonhei um sonho possível. Nem isso eu sou capaz de fazer. 

O que eu sou capaz de fazer? Eu sou capaz de reclamar, do dia, da vida, de tudo. Eu sou capaz de mergulhar num oceano de autopiedade e desprezo. Eu sou capaz de chorar todos os dias pela constatação de não ser amado pelo homem que amo. Eu sou capaz de ser o homem mais incapaz de toda a face da terra, abominavelmente inútil e absolutamente desprezível aos olhos humanos. É disso que sou capaz. 

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