terça-feira, 14 de agosto de 2018

Dos favores

Tem dias que me sinto incomodado, pela frequência com que me procuram. As vezes eu penso que tem uma placa escrito "favores" na minha testa, e as vezes penso que é só pra isso que eu sirvo. 

Gabriel, imprime isso pra mim?

Gabriel, liga pra fulano pra mim?

Gabriel, me ajuda no trabalho da faculdade?

Gabriel, faz isso pra minha pastoral?

Gabriel, me ajuda com meus problemas?

Gabriel, me ajuda com um processo?

Gabriel, me ajuda a entrar no sistema do governo pra baixar meu contracheque?

Gabriel, me ajuda a fazer uma arte?

Se por um lado deveria ficar feliz por saber que as pessoas confiam em mim, e principalmente na minha eficiência, por outro eu me sinto sufocado pelos outros. Não tenho disposição pra fazer nem aquilo que eu deveria fazer para mim, imagina só pra resolver os problemas dos outros que eles mesmo não quiseram fazer. As vezes sinto que se alguém não quer fazer algo, por preguiça ou desânimo, já pensa logo em mim. Não é possível que eu seja o único a conseguir resolver problemas burocráticos, por exemplo...

Eu sei que pensam em mim como responsável, eficiente, esforçado. E é bom que pensei assim, pois assim me esforço pra ser. Mas eu não queria ter de fazer tudo isso. Eu só queria ficar quieto, sem ver ninguém, estudando em silêncio e escrevendo as coisas que o meu coração me diz. 

Sinto que não tenho para nenhuma dessas pessoas uma importância real, mas que importa mesmo é aquilo que posso fazer para cada um. Todos querem um favor, todos querem algo de mim, mas ninguém pode sequer me dar um abraço...

E sabe, eu nem preciso de muitos favores não. Eu só queria alguém pra sentar comigo na calçada, tomar um refrigerante olhando pras estrelas, caminhando sob a luz do luar... É pedir demais, alguém pra me abraçar? 

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