quinta-feira, 16 de agosto de 2018

De um anúncio fatídico

Mais um ensaio se aproxima, e eu sinto que mais uma crise vem se anunciando também. Já sinto os sinais... Os tremores, as palpitações, o gosto metálico na boca... Eu estava tão bem, poxa... É uma sensação tão ruim, tão desesperador, sentir medo de ser dominado pelo medo. Não faz nenhum sentido, mas é assim que me sinto. 

E então eu automaticamente me fecho, venho pro escuro, como se isso fosse ajudar alguma coisa. Mas não ajuda, não ajuda em nada... Queria um abraço, alguém que me dissesse que tudo vai ficar bem, que eu vou sobreviver a mais um fim de semana. 

Eu temia que o cansaço que sentia nos últimos dias fosse mais do que um reflexo do fim de semana cheio que tive. Mas parece que na verdade ele abriu espaço para minha mente se desestabilizar de novo. Logo quando eu achei que as coisas iriam começar a dar certo, logo quando achei que eu ia voltar a sorrir de verdade, logo quando achei que poderia voltar a me sentir bem perto dele... 

E lá vem ela, marchando ameaçadoramente em minha direção, trazendo os garfos e as tochas. Sua lâminas têm sede de sangue, o meu sangue. Os tambores e as trombetas gritam aos quatro cantos que não adianta correr e nem me esconder, ela me encontrará, e dessa vez ela me matará, sem clemência nenhuma!

Mas eu não queria me entregar dessa forma, de novo não. Não quero mergulhar no oceano de escuridão que vem avançando sobre mim. Não quero sentir o medo, a dor em respirar, o desejo da morte... Eu não quero! Mas pra onde fugir? Onde me esconder se o inferno do qual quero fugir está bem aqui dentro do meu peito? O que eu posso fazer? Não há nada para fazer senão chorar, e me deixar ser dominado pelos tentáculos gelados da morte, que circundam minha cabeça, querendo me levar à loucura... 

Posso me refugira na beleza daqueles que me entretêm? Posso buscar consolo no colo daqueles que já se foram mas que deixaram um legado de suas histórias de lutas e crises? São mais perguntas do que respostas...

E agora eu, pobre, que farei? Que patrono invocarei? Será que sua majestade, no alto de sua glória, se compadecerá de mim e virá em meu auxílio? Ou enfrentarei sozinho, a sorte, o dia da ira, aquele dia, que transformará tudo em cinza fria?

Gostaria de encontrar poesia aqui. Mas nesse momento não vejo a beleza no sofrimento, me desculpem, me sinto apenas como cinza lançada ao vento, sem força, sem rumo, sem prumo. A única beleza ao meu redor é a daquele que assim me destruiu, e das notas da sinfonia que embalam o meu sono da morte. Como podem os poetas enxergarem na morte beleza? Eu vejo apenas desespero e tristeza na minha própria dor, e percebo que não passa de sadismo, quando vejo na dor do outro, a poesia que falta a minha...

Olha pra cima, e vejo apenas uma lâmpada tremeluzindo. Nem sequer fui atacado pelo exército inimigo ainda e já estou caído. Eu poupei o esforço deles e apunhalei o meu próprio peito. 

Oh que infeliz constatação. Um poeta que na morte não escreve poesia, mas se vê desejando a morte dos outros, para poder ao menos desfrutar de um pouco de beleza, antes de se entregar aos braços frios e magros, da mórbida ceifeira de almas...

E agora eles se riem de mim. As trombetas não anunciam mais a chegada de um exército, mas já comemoram a vitória, isto é, a minha morte! 

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