sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Mais animal do que homem

Uma perspectiva infeliz se antepõe a minha frente nesse momento. 

Uma dicotomia na minha autoestima. 

Uma briga.

Se por um lado há em mim um crescente desejo de me cuidar, de me esforçar para ser como sou, e de me sentir bem comigo mesmo, especialmente meu corpo, por outro lado há a certeza de que não importa o que faça, não há como mudar o que sou. Não adianta mudar a aparência, se ela nunca poderá ser boa de fato, como também não adianta fazê-lo se meu interior continua aflito.

Eu vejo ao meu redor, e me encanto de tal modo com a beleza de certas pessoas que fico absolutamente hipnotizado. Olho no espelho e não consigo ver uma forma de melhorar o que vejo. Não há em mim nem sequer a latência de um dia me tornar agradável aos olhos dos outros, e aos meus também. 

Acontece que minha autoestima, que algumas semanas atrás até passou por dias bons, despencou novamente. Eu vejo os jovens com suas peles perfeitas, cabelos comportados, lábios rosados e vejo depois o que sou. Pele escura, lábios desproporcionais, cabelo sem vida. E não há outra reação possível além da completa decepção. Os discursos motivacionais nunca tiveram efeito em mim. Não há nada que possa me fazer sentir bonito, importante. 

Já sentiu tanta vergonha da própria aparência a ponto de não querer sair na rua? Me sinto assim agora. E isso só piora tudo, pois não tenho vontade de fazer a barba ou de usar maquiagem, por exemplo. A minha vontade é de me esconder, até o mundo esquecer completamente que um dia teve de me ver, com essa aparência grotesca e bestial.

Assim me vejo, mais próximo de um animal do que dos homens. 

Sei que deveria ter aqui espaço para dizer o quanto o exterior deve ser inferior ao interior, mas não consigo. Simplesmente não consigo pensar nessa gradação. O interior pode estar bem se o exterior não está? E o contrário? 

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