sábado, 6 de janeiro de 2024

Aforismos contra o ser

"Quero confessar com sinceridade, mas meu coração está vazio. O vazio é um espelho que reflete no meu rosto. Vejo minha própria imagem e sinto repugnância e medo. Pela indiferença ao próximo, fui rejeitado por ele. Vivo num mundo assombrado, fechado em minhas fantasias."
(Do filme O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman)

Não estou nada interessado nessas conversações. Não me interessa quem morreu ou quem vai fazer um cruzeiro de mil reais  no fim de ano, pouco me importa quem se demitiu ou quem recebeu para fazer propaganda enganosa. Como as pessoas se preocupam essas coisas e por qual razão elas acham que eu estaria minimamente ineressado nisso? Tenho preguiça do homem e de suas convenções bobas, vazias, simplórias. Tudo diante da eternidade ganha uma perspectiva opaca, vazia, sem sentido.  

E por outro lado, donde esperava um pouco mais de compreensão, que engano! Apenas mais mesquinharia. A Igreja se tornou uma burocracia com linguajar eclesiástico, e o pior é que nem seus membros o compreendem. Por onde quer que olhe há essa atmosfera de que cumprimos algum tipo de formulário, e que isso nos levará a salvação, que também é algo que ninguém sabe muito bem o que é. Os partidos, arrogantes, tomam pra si o julgamento de toda a conduta, boa ou má, usando a sua moral kantiana para, do alto de suas cátedras de júri, juiz e executor, condenar a tudo e todos enquanto permitem que todos façam aquilo tudo que lhes agrada. 

Em casa, continuo numa perpétua fuga da realidade. Não vejo as doenças ou as brigas dos bêbados, fecho os olhos para a displicente e incômoda existência de todos, inclusive a minha própria.

Parece que todos têm horror a tudo que é elevado, belo e sublime. Todas as nossas experiências devem ser banais, idiotas e imediatas. A pequenez é a regra, não pode haver a busca pela excelência. Isso é ser humano?

Esse é o ambiente em que me encontro. E a cada dia eu imploro aos céus que seja o último. Porque conviver com essas pessoas é simplesmente o pior inferno que eu posso imaginar. 

O amor foi só uma dessas incursões que resultaram em nada, e o nada parece ser tudo que resta ao homem. Todas as lutas, todos os sonhos, todas os dias de trabalhos, discussões, tudo o que faz o homem, ao fim, se torna cinzas, e depois nem mesmo isso. O amor é só mais um mentira. E tudo retorna ao nada.

Eu só queria... Ah lá sei o que eu queria? Não faço a menor ideia, mas eu sei que isso aqui é horrendo, que sou apenas um entre muitos sepulcros caiados. Não sei, no entanto, por onde vou ou para onde vou... Mas sei que não quero ir com nenhum de vocês.

Minha revolta não é, no entanto, com a sociedade, ou com o sistema, capitalista ou socialista, tampouco com a minha sorte, ou ainda menos com meu amor. Minha revolta é com o próprio Ser. É a existência que me cansa, que me causa náuseas, que me faz questionar o que vale a pena ao mesmo tempo que mostra que nada vale, que tudo não passa de um esforço vão, frágil, vazio e sem contorno. 

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