sábado, 27 de janeiro de 2024

Amor equívoco

Eu saí receoso com o calor excessivo dessa manhã ensolarada e achei que, ao caminhar depressa, estava ficando sem ar por ter ficado tantos dias parado. Pensei em como iria transpirar no trajeto até o ponto de ônibus e como o verão estava se prolongado demasiado fazendo com que eu tenha de suportar o sol escaldante ainda por dois meses até que comece a refrescar. E achei mesmo que precisaria me esforçar mais para vencer o cansaço, já que respirava como se acabasse de correr uma pequena maratona. 

Senti meus pulmões arderem e, ao colocar a mão no peito, entendi que não estava assim por causa do esforço, não, senti que coração é que havia se inflamado, ao olhar o céu brilhante de Santa Catarina, a luz quente banhando meu rosto e corpo e, a sua imagem me banhando a alma. Meu coração se inflamou e eu suspirei de amor, uma ou duas pessoas o viram, não tem problema, que saibam que nessa manhã viram um homem suspirar de amor, numa clara manhã de verão, de amor em vivas ânsias inflamada.

Mas é claro que eu não posso te falar isso. Então eu engoli esse sentimento, respirei fundo mesmo contra a vontade de meus pulmões e tomei um ônibus.

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Agitado demais para conseguir sentar e escrever com a paciência requerida, infelizmente me deixei levar pelo ambiente ao redor e hoje estou ansioso. Apelei pra uma dose baixa de Rivotril que conseguiu, ao menos, relaxar as minhas pernas que tremiam sem parar, mas ainda não conquistei a minha tão querida veia poética para olhar lá fora pela janela e, vendo a chuva que caiu aplacando um pouco a violenta onda de calor que passa pela cidade, e então falar um pouco sobre como, mesmo no meio dessa agitação toda, eu procurei você, e não o encontrei. 

Em ti, que és meu aposento
És minha casa e morada.
Aí busco, cada momento,
Em que do teu pensamento
Encontro a porta fechada.

Santa Teresa D'Ávila

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Eu queria só entender, realmente, de que modo, como posso amar tanto você. Você pode me dizer? 

O calor diminuiu um pouco, está nublado, talvez o sol tenha se intimidado e se escondido atrás das nuvens. Embora ainda esteja abafado, está mais suportável que nos outros dias, e só o que não mudou foi mesmo o que eu sinto por você. 

Eu só não consigo entender, mesmo à distância, mesmo sabendo a verdade, mesmo assim, como posso amar tanto você?

Assim como a chuva vem e passa, como o sol caustica e depois se vai, como o frescor que às vezes dá lugar ao calor intenso, como as mudanças do tempo o meu coração vai palpitando, mas sempre é possível encontrar você nele, seja como aquela brisa por entre as açucenas olvidada ou ainda como calor que aquece o peito enquanto me enrubesce a face, você sempre está aqui comigo.

E muito mais do que eu queria, mais do que eu consigo suportar, porque isso só me torna cada vez mais brutalmente consciente do meu lugar, da minha verdade. E é uma incrível ironia, que sonhar ao alto céu contigo seja justamente o que mais me coloca os pés no chão. 

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Te espero sempre
tu, homem de erros,
de um amor equívoco
mas abrasado

Mariana Ianelli

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