quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Aforismos sobre o desgaste

Nem consigo olhar para você e pedir desculpas pelas mudanças constantes de humor. São pequenas coisas que acabam virando algo dentro de mim, não é que me chateiam simplesmente, e nem você é culpado delas. Às vezes é algo bobo como um atraso ou mais imperceptível ainda... E tem sido assim, tenho estado sensível ao ver você no seu caminho pois o creio, firmemente, que isso o afastará de mim, já que parece que vamos em direções opostas.

Você fala do que lhe enche o coração, que busca seguir um caminho reto, e tudo que consigo pensar é no quanto queria tê-lo comigo. Mas isso para você significaria o inferno. Então o que eu vejo é que, pouco a pouco, estou sendo abandonado, de novo, como sempre fizeram. Você vai por um caminho que não posso ir, não tenho altivez e nem tenacidade para tal, e ironicamente é o caminho que eu mesmo lhe indiquei. 

E é por isso que, nesses momentos, me vejo em especial e brutal solidão. Mais uma vez só vejo as costas daqueles que caminham me deixando para trás, imóvel e sem nada que eu possa fazer. 

Sei também que você se machuca com essas minhas oscilações, sempre tão inconstante, prestes à rompantes, e não estranharia em nada se você escolhesse se afastar de pronto. Na verdade, me surpreende que ainda não tenha feito. 

Mas não, não foi nada em particular que você tenha feito ou dito. Tudo é, na verdade, um movimento errado dentro de mim, uma torrente que corre sem controle, que vem e vai sem que eu possa ter nenhum poder. E então, quando vejo suas costas, sou tomado de uma tristeza, tristeza profunda, e fecho os olhos ao adormecer torcendo que não volte a acordar, torcendo que, pela Bondade Divina, eu possa morrer de amor. 

Quisera, quisera mesmo que esses suspiros de amor conseguissem dar vazão a todo esse sentimento em constante ebulição dentro de mim. Mas tudo que posso fazer é fechar os olhos e me forçar a dormir, ignorando os meus músculos, cada fibra do meu corpo, vibrando até o tutano de desejo por você. E então eu perco qualquer equilíbrio... Não há razão, não há teogonia, há apenas meu amor, descontrolado, em vivas ânsias inflamado.

"(...) Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti." (Mia Couto)

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Pensamento solto de toda e qualquer realidade: e se fôssemos, escondidos, ver os fogos de artifício na virada do ano, apenas você e eu, os braços um por sobre os ombros do outro, taças de vinho ao nosso lado. Quem sabe num apartamento privativo, só a nossa música baixinha no escuro, as luzes dos fogos e dos sorrisos das pessoas lá embaixo. 

Aqui, distante, perdido nesses devaneios, eu fecho os olhos ignorando um pouco o calor intenso e a confusão ao meu redor e, tudo o que vejo, é seu rosto... 

Sempre vejo seu rosto ao fechar os olhos... 

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"Amar também é bom: pois o amor é difícil. Ter amor, de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação." (Rainer Maria Rilke)

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É desgastante. E percebo o quanto esses sentimentos são desgastantes. Um amigo comentou comigo o quanto é exaustivo quando apenas um sente, ou se esforça. E é assim que me sinto, o tempo todo, como se dispendesse uma energia tremenda que simplesmente se esvai. É exaustivo, é realmente desgastante, e é como se me fosse tirado algo o tempo todo, como se me cavassem, como se fosse uma escultura feita de areia numa praia atingida por ventos revoltos, me fazendo redemoinhar como farrapo. É desgastante. Amar por um só é desgastante. E eu nem mesmo posso cobrar nada, afinal nenhum deles pediu por esse amor. Eu amei de graça. E amei demais. 

E a proposta que não me atrevo a fazer é: e se, independente do título ou de como o veriam, você considerasse estar ao meu lado de verdade?

Mas acho que não, seria pedir demais não é mesmo? Isso nem sequer passa pela sua mente, é um sonho distante demais pra mim. Um sonho ou um último suspiro...

E todos os dias digo a mim mesmo que preciso me dar ao respeito, que preciso corresponder aos sentimentos, que preciso me cuidar e não me entregar assim, não mergulhar de cabeça, mas quem disse que eu consigo controlar isso? Eu sempre mergulho, é sempre com muita intensidade, é de uma forma quase infantil mesmo, como uma criança pulando no brinquedo novo sem medo de se machucar, de se ralar toda, quando eu bem sei que, na subida ao Monte Carmelo onde se encontra o Amor, há flores e espinhos no caminho, pedras e fontes, mas por que parece que não estou subindo este monte santo e sim apenas atrás dos machucados? 

Meu corpo não está ferido o bastante? E sendo tudo o que sou, corpo, alma e espírito, sendo todo amor, esvazio-me dia após dia na esperança, serena e profunda, quase imperceptível de que cantarei para sempre, ao teu lado Senhor. 

É desgastante. E percebo o quanto esses sentimentos são desgastantes. Um amigo comentou comigo o quanto é exaustivo quando apenas um sente, ou se esforça. E é assim que me sinto, o tempo todo, como se dispendesse uma energia tremenda que simplesmente se esvai. É exaustivo, é realmente desgastante, e é como se me fosse tirado algo o tempo todo, como se me cavassem, como se fosse uma escultura feita de areia numa praia atingida por ventos revoltos, me fazendo redemoinhar como farrapo. É desgastante. Amar por um só é desgastante. E eu nem mesmo posso cobrar nada, afinal nenhum deles pediu por esse amor. Eu amei de graça. E amei demais.

"A terrível tentação de ir até você e abraçá-la." (Franz Kafka)

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