sábado, 27 de janeiro de 2024

Sua resposta

É normal que você se pergunte do porquê gosto tanto de você. E é uma pergunta que me fiz algumas vezes, muito embora a resposta para ela sempre estivesse clara no meu coração. Por favor, não entenda essa resposta como uma tentativa de convencer você, sei bem que coisas desse tipo não se prestam a dialética, por assim dizer. 

Mas eu consigo me lembrar de quanto tínhamos uma amizade normal, próxima o quanto fosse, de pessoas que conversam muito tempo porque tem assuntos em comum. Mas, quando se vê certas coisas, que não revelamos a mais ninguém, ou que permitimos que o vejam em nós, isso muda algo dentro das pesoas. 

A resposta é que você conseguiu me mostrar uma possibilidade diferente. Uma forma de sentir-se a vontade, de dizer a verdade, de apreciar a companhia de tal modo que eu ainda não tinha conhecido. 

Veja bem, todas as vezes que me apaixonei é porque algo na convicência com essas pessoas me convenciam disso, e eu vou entender se você pensar que o mesmo se deu contigo, mas é a primeira vez que essa companhia se deu da forma como a nossa se deu: caminhando em busca de uma vida interior mais profunda, com o apoio e a compreensão que lhe é típica das almas próximas pela busca da virtude, como São Francisco o foi de São Domingos ou São Bento com sua irmã Santa Escolástica. 

É normal se apaixonar ao ver o lado mais belo de alguém, como sua curiosidade, a persistência de seus sonhos, coisas desse tipo, mas quando nos apaixonamos por ver o pecado do outro e sua luta constante em mudar, em ser melhor ainda que isso signifique uma mudança profunda e, não raras vezes, dolorosa pela exigência e pelas quedas, acho que isso mostra um amor verdadeiro. 

Talvez não faça sentido, e talvez você nem mesmo considere os meus sentimentos assim, mas o que posso dizer é que, se há nesse amor algo que possa ser transposto em palavras assim, numa resposta, é que me apaixonei por você ao ver quem você é e, tendo sua companhia virtual, passei a desejar sempre mais a sua real, compreendendo o verso de São João da Cruz que disse que "ferida de amor não se cura, se não com a presença e a figura." 

Talvez eu nem mesmo o responda, por medo de uma recusa mais formal, mas essa é a verdade, mais simples do que muitas das elaborações poéticas que costumo fazer. 

Já das suas costas largas eu prefiro não falar.

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