sábado, 27 de janeiro de 2024

Andy, Buck e Eu numa tarde fresca, e estúpida

"As pessoas fazem um grande estardalhaço sobre o amor pessoal. Não precisa se uma coisa tão grande. Igual a viver - as pessoas fazem um grande estardalhaço sobre isso também." (Andy Warhol)

Não sei bem o que pode ter desencadeado isso, talvez seja apenas uma daquelas coisas que brotam naturalmente da alma humana e vem até a superfície mas, por alguma razão, eu me perguntei: e se desse mais uma chance ao amor? 

Mas então eu me lembrei que já havia concordado e decidido, não apenas no íntimo mas até marcado uma data para isso, que eu iria desistir, desistir de toda e qualquer tentativa, desistir até mesmo de acreditar no amor, em qualquer que seja a sua forma humana. 

Isso porque eu já sei bem que não há como o amor dar certo para mim, não há então necessidade de tentar, tudo o que pode restar é apenas decepção. Então não me importo se ele passa por mim e me ignora, não importa se ele não responde as minhas perguntas, não importa, nada disso, se me importar só estarei alimentando alguma centelha de esperança, o que só dará abertura a novas decepções, e foi justamente isso que me trouxe até aqui, a essa vida cética, sem graça, de lente sépia e com uma sensação de vazio que nunca passa. 

Por isso eu não posso esquecer, daquela tristeza profunda que o amor me causou, não posso esquecer ele só pode trazer dor e decepção, e que os sorrisos das pessoas são esteriores a mim, o meu sorriso nunca é real, é apenas uma máscara que eu nem mesmo sei que em que momento comecei a usar. O amor só existe nos livros e nas séries, só serve para que as pessoas, acreditando nele, não desistam de tudo o mais também como eu.

E então o que me resta é tornar-me esse pária, alguém que não crê no amor, e que já desistiu também de tudo mais. Alguém que olha para toda a experiência do ser com tédio. 

Isso porque a decepção com o amor foi tão grande, tão devastadora, que todas as outras coisas foram destruídas quando aquele castelo ruiu pela última vez. Amizades, outras alegrias, trabalho, lazer, tudo isso se foi num buraco negro, restando apenas uma realidade cinza, monótona, como um dia nublado em que não se tem vontade de fazer nada. E hoje é assim, ontem também o foi, e amanhã também será.

Hoje, por exemplo, é um dos dias mais bonitos que consigo me lembrar. O sol brilha mas não está tão quente, seria ótimo para ir a praia ou um rio, ou até pra ficar em casa, lendo na sacada ouvindo música, ou tomando uma cerveja... Mas, mesmo assim, eu simplesmente não consigo me animar. 

Olho pela janela e tudo o que sinto é uma imensa vontade de dormir me invadindo o peito, uma desesperança profunda. E isso não foi por conta de um amor que não deu certo, talvez nem por todos os que não deram certo, não é simples assim. Seja abandonado por quem mais ama, mais vezes do que consiga contar. Amigos, amantes, seja traído por todos que, sem nenhuma consideração, pisam e esmagam seu coração. Aonde quer que olhe só veja miséria, do tipo moral, absoluta: pessoas cuja maior realização da existência é encontrar-se com outras pessoas para falar como a vida é boa e celebrar as celebrações da vida.

Eu sequer consigo entender. Celebram o sexo mas duvido que o façam tanto assim. A comida não é assim tão boa, o vinho tampouco. Ficar bêbado é até bom, mas o vinho que eu tomo vale menos que uma taça do deles, então porque não preferir beber mais? Tá, eu sei que é qualidade, o que estou dizendo é que eu não enxergo essa coisa boa. Organizam eventos que demandam esforço e pessoal, para não darem atenção ao evento enquanto falam sobre todos os outros eventos que foram e não prestaram atenção. Esse ambiente de banalidade, no entanto, se estende indefinidamente ao meu redor. Todos acham que têm razão, eu não tenho nenhuma.

Tudo isso foi gerando então uma perspectiva extremamente pessimista em mim sobre tudo, todos e, especialmente, sobre mim mesmo.

Por isso, mesmo num dia lindo como hoje, domingo fresco de verão, eu prefiro dormir e não ver nada e nem ninguém, afinal, todos estão sorrindo em algum lugar, felizes ao que parece, mas eu, eu só consigo ver o quanto tudo isso é chato.

”Nunca me senti só. Durante um tempo fiquei numa casa, deprimido, com vontade de me suicidar, mas nunca pensei que uma pessoa podia entrar na casa e curar-me. Nem várias pessoas. A solidão não é coisa que me incomoda porque sempre tive esse terrível desejo de estar só. Sinto solidão quando estou numa festa ou num estádio cheio de gente. Cito uma frase de Ibsen: ‘Os homens mais fortes são os mais solitários’. Viu como pensa a maioria: ‘Pessoal, é noite de sexta, o que vamos fazer? Ficar aqui sentados?’. Eu respondo sim porque não tem nada lá fora. É estupidez. Gente estúpida misturada com gente estúpida. Que se estupidifiquem eles, entre eles. Nunca tive a ansiedade de cair na noite. Me escondia nos bares porque não queria me ocultar em fábricas. Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar.” (Charles Bukowski, entrevista ao ator Sean Penn em 1987)

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