terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Depois de uma noite acordado

Virei a noite revendo uma série de Taiwan de alguns anos atrás, We Best Love, sem realmente estar interessado mas, ao mesmo tempo, me deixando levar pela beleza dos protagonistas e a promessa de dormir hoje o dia todo. A verdade é que bem pouca coisa tem conseguido prender minha atenção atualmente e, felizmente, algumas séries ainda são o que mais se aproximam de conseguir fazer eu parar para pensar, já não no tom filosófico ou romântico de antes mas como que um alimento simples que logo deixa com fome de novo, mas ainda é um alimento, ainda é algo que, por mínimo que seja, me faz sorrir ao ver os rostos perfeitos, os sorrisos bonitos, os corpos fortes e aquelas situações cômicas cheias de tensão... 

Ainda gosto de acompanhar a vida alheia, sabendo que nada na minha terá essa emoção ou comoção. O que mais me acontece é receber as mensagens incovenientes de gente chata e um amor não correspondido por um homem distante e um certo quebranto pelo vizinho da esquina que mais se tornou um objeto de veneração platônica do que um sentimento real. Quando converso com ele percebo que não é isso, foi um encantamento pela aparência delicada dele que me atraiu mas que, passados os instantes iniciais das primeiras conversas, percebo que não há como ir muito além. 

E percebo ainda que continuo sozinho. Nas histórias que assisto apareceria um homem perfeito que veria em mim algo de encantador e se aproximaria, mas isso só acontece nas histórias mesmo. Os homens perfeitos estão atrás de outros mais perfeitos ainda e, como ninguém perfeito, todos se debatem debilmente em busca de coisas que não existem. 

Mas pelo menos eu vou dormir um pouco hoje, um dia a menos nesse mundo tão vazio. Menos um dia olhando pela janela com indulgência e, suspirando, pedindo que uma catástrofe destrua tudo de uma vez ou que, no mínimo, eu possa ter uma morte idiota que me livre dos idiotas. 

Eu só queria não ser... 

Não ser inferior, não ser tão carente, nem tão melancólico, nem tão sonhador, com os corpos perfeitos, com os sorrisos iluminados, com os cabelos tão bonitos, com o afeto demonstrado. Eu só queria poder olhar um homem bonito e passar adiante, sem me sentir com isso o pior dos homens. E o problema é que eu nem mesmo consigo olhar isso e tomar como sonho, ainda que impossível de se realizar, não, eu nem sequer considero isso, a possibilidade, só olho pra tudo isso com pessimismo brutal. 

É por isso que eu não me importei quando você me disse que me via como alguém pequeno, bem menor do que você. Acontece que nada que você pense de mim será tão ruim quanto o que eu penso de mim mesmo.

Me vejo como um velho moribundo, daqueles que, vivendo em perdição, olham para traz arrependidos por não terem feito nada da própria vida além de chorar os amores que passaram como lhe passaram os anos. Mesmo que nem todos os meus anos tenham se passado, os meus amores sim. 

E os remédios já fazem efeito mais uma vez e a visão já fica turva... Ontem tomei energético pra me manter acordado, hoje me dopei com tarja preta pra apagar. Sei que nada disso é saudável mas, na verdade, espero mesmo que isso possa dar cabo de mim rapidamente. Que seja lembrado como um viciado moribundo que morreu cedo por tomar remédios demais e que poderia ter sido grande escritor. Mas bem, quem é que liga para bons escritores? 

"Se pudesse desejar algo pra mim, não desejaria riqueza nem poder, mas a paixão da possibilidade; desejaria apenas um olho que eternamente jovem, ardesse de desejo de ver a possibilidade" (Kierkegaard)

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