domingo, 14 de janeiro de 2024

Noite de BL

Resolvi rever The Eighth Sense, graças às pessoas da comunidade de BL da internet que vivem colocando trechos dele na minha timeline e, agora, me surpreendo de não ter percebido a obra de arte que essa série é. 

Embora seja coreana ela não tem muito a ver com a estética dos doramas e, mesmo sendo intimista, ela tem uma fotografia um tanto mais próxima da japonesa, que usa bastante da luz natural para mostrar a atmosfera proposta e, como gravada na Coréia, ela tem uma luz fria, mas não aquela fria da artificialidade coreana (não é uma crítica) mas que dá um tom muito pessoal a essa obra. Então é como se a gente realmente estivesse mergulhando no mundo dos personagens. Mesmo no calor do verão catarinense eu pude sentir a brisa fria das cenas nas praias geladas do litoral coreano (ou pode ser a brisa gelada do litoral da Baía da Babitonga, onde moro, mas não vem ao caso).

Me senti bem ao dar a devida atenção a ela, podendo ver de novo aquele personagem tão angustiado do Lim Ji-sub, traumatizado, que encontra num calouro tímido um ambiente acolhedor onde ele pode ser ele mesmo, sem as máscaras que ele normalmente usa com todos os outros. 

Acho bela essa construção do outro como lugar de encontro de si mesmo. O protagonista encontrou na fragil relação com um desconhecido a liberdade de mostrar sua própria fraqueza, sua própria insegurança em nunca admitir seus traumas e nem demonstrar que a vida ideal que ele tem é, na realidade, uma farsa que se equilibra numa imagem frágil e decadente que, no entanto, poucos enxergam. 

Por trás de um homem confiante, sorridente, está um garoto ferido, truamatizado pela morte do irmão que, sendo quem o apoiava em seu sonho de não corresponder as expectativas da família (realidade brutal na Coréia de nossos dias), ao partir levou consigo essa coragem para enfrentar o outro. Ao que ele se esconde sendo um oficial perfeito, um aluno perfeito, um veterano perfeito. Por trás disso há um homem em pedaços, que necessita de remédios com frequência, que bebe para esconder as crises de ansiedade mas que, ao conhecer o outro, pode fugir e se conectar com um amor que, sendo desconhecido e, portanto, ignorado por todos, não carrega nenhum julgamento. 

Claro que o plot final traz justamente uma problemática onde esse relacionamento é posto à prova, e o personagem passa por meses de longa e profunda depressão, coisa mostrada com essa delicada fotografia e uma trilha sonora cativantes, sendo uma dessas obras que precisa ser assistida no silêncio da madrugada, como eu fiz, e sem interrupção, para que possamos realmente nos conectar com aquele mundo de dor, de trauma, mas também de superação por meio de um amor sensível, compreensível e, acima de tudo, belo em sua singeleza. 

Agora que o clarão da luz já se anuncia eu vou dormir, com o coração quente pelas cenas de intimidade, de uma simples caminhada lado a lado, de sorrisos tímidos, de olhares que escondem dor e amor, de um descobrimento belo, de como a intimidade pode ser motor da auto descoberta. Belo.

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