quarta-feira, 8 de maio de 2024

O Idiota

Outra ciclagem nesse inferno. Ainda nos últimos dias eu estava quase prostrado, irritado com tudo e todos, depois, no sábado, me veio uma euforia que só não se estendeu até o domingo porque precisei usar uma quantidade absurda de remédios para alergia, mas ainda permanecia aquela inquietude típica dessa fase. E então, depois veio a depressão junto ao cansaço da crise alérgica. Hoje, um episódio misto marcando nova ciclagem, não há corpo que aguente… 

Outra ciclagem nesse inferno. É sempre assim. A depressão que me deixa prostrado, como que um cadáver adiado e a euforia, que me faz ficar inquieto, e falar demais, e dar em cima dos caras e querer transar loucamente, ainda que sejam dez da manhã com um desconhecido no banheiro de um terminal do outro lado da cidade. É sempre assim. Ou sem desejo nenhum, ou pior que um ator pornô. Celibatário ou tarado, mas sempre, sempre, um idiota, nojento e desprezível. 

O dia está até bonito, apesar de quente não está úmido, afinal é outono, mas ainda assim eu não quero estar lá fora, mas também não quero ficar aqui enfurnado no escritório congelando no ar, também não quero ir para casa, embora queira dormir, mas só pelo prazer de não ver e nem interagir com nada, nem ninguém.  

Me vem tremores, os ânimos ficam exaltados. Queria não ser assim, tão volátil, mudando sempre tão rápido. Inconstante, imprevisível, uma bomba de efeito retardado.

E então percebo que de novo estou querendo me refugiar no sono. Ontem fiquei feliz por poder chegar em casa e simplesmente ficar deitado esperando que ele chegasse, e hoje já me vejo inquieto para fazer o mesmo, ignorando que tenho uma reunião que esperam que eu vá, ignorando que preciso ficar acordado ao menos uma hora em casa, estudar um pouco que seja…  Mas eu não queria nada disso, eu só queria voltar ao nada. 

É isso que me faz ser um grande idiota, falar demais, não saber a hora de parar. Como as pessoas aguentam outras assim o tempo todo? Não aguentam, e então explodem, como aconteceu comigo, mais uma vez, com uma das pessoas por quem mais tenho carinho. É isso que me faz ser um grande imbecil, desprezível e que por isso, por ser tão bizarramente estranho, está condenado a ficar sozinho para sempre, sempre, sempre, um idiota, nojento e desprezível. 

E essa dor de cabeça não diminui, e eu fiquei envergonhado, mesmo estando do outro lado do país, desejando que houvesse um jeito de não ser assim, de não me humilhar tanto, de não ser tão boçal. Mas eu sou, eu sou desprezível e por isso todos me desprezam. 

Por isso eu deveria me calar, e desaparecer. Seria melhor para todos. 

Eu deveria me calar de uma vez por todas.

Seria o melhor para um idiota nojento desprezível.

Pranteariam meu cadáver sorrindo, todos eles, e diriam entre si: como ele foi um nojento desprezível!

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