sexta-feira, 17 de maio de 2024

Um jeito imperfeito de ver

"O mundo no qual nós penetramos pelo nascimento é brutal, cruel e, ao mesmo tempo, de uma beleza divina. Achar que a vida tem ou não sentido é uma questão de temperamento." (Carl G. Jung)

Eu queria, queria mesmo, ver a vida com outros olhos. Conseguir enxergar a beleza da natureza, por exemplo, e buscar nela uma razão de ser, ter um sonho que fosse. Queria olhar a ternura de uma flor que desabrochou, um regato fresco, até mesmo a imponência do oceano e desejar aquela beleza, desejar que ela se impregne em mim de tal modo que eu deseje sempre mais e, admirando as coias que passam possa aspirar as que não passam. 

Mas eu não consigo. 

Se fecho os olhos eu não tenho sonho a realizar, não há desejo profundo, nem silencioso ou secreto. Apenas não há. Não há algo que eu queira, ser ou conquistar, todos meus sonhos morreram um a um, e fui ficando, cada vez mais só, mais distante, mais vazio. Um homem que já não é capaz de sonhar, um cadáver adiado. 

E eu queria ser mais do que isso para você. 

Mas isso seria um sonho? 

Acredito que não, porque há muito também percebi que não posso sonhar em caminhar com você se isso é impossível de realizar. 

E sei que a minha insegurança, convertida em pessimismo, é um fardo. Mas, fui trocado mais vezes do que consigo me lembrar, e isso acabou deixando uma ferida permanentemente aberta no meu peito.

Eu acho que então eu só não queria ser motivo de incômodo para alguém que eu amo. Porque se algo ficou dentro dessa casca que me tornei, foi o meu amor por você. 

"Amo o amor dos marinheiros
que beijam e se vão.
Deixam uma promessa, 
não voltam nunca mais."

(Pablo Neruda)

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