terça-feira, 21 de maio de 2024

Um sonho

Malcolm Liepke

Foi apenas um sonho, mas passei o dia inteiro pensando nisso, nessa sensação que pareceu tão verdadeira. Ainda sinto a mão dele, quente, pequena e suada, segurando a minha com força, durante aquele dia caótico e, naquela noite, ao olhar em meus olhos antes do doce adormecer... Me emociono quando penso nisso, e olho para minha mão, pensando se um dia poderei segurar a mão dele de verdade, talvez num passeio de verdade e, ao dormir, ao lado dele de verdade.

Estou excepcionalmente melancólico hoje, excepcionalmente, pois já o sou normalmente, mas hoje acho que superei minha própria cota. Bem, não acho que exista um limite pra quanta poesia cabe no coração de um homem para sobreviver a esse mundo, aos amores, mas de todo modo até eu me surpreendi quando, no meio de um evento cheio de pessoas, com minha atenção dividida em meia dúzia de coisas, eu lá estava, de olhos marejados, a me recordar de um sonho, logo eu que dificilmente me lembro deles. 

Pensei que pudesse ser efeito do dia chuvoso. Quando o pessoal da meteorologia anunciou um grande volume de chuva para hoje eu pensei que seria daquelas chuvas torrenciais, que alagam tudo em questão de poucos minutos, mas não, o que aconteceu foi uma ininterrupta chuva que insistentemente caiu o dia todo, pintando toda a cidade de um cinza triste, bem, melancólico.

E enquanto voltava para casa, o vento frio me incomodando as minhas mãos, nuas enquanto o resto do meu corpo estava envolto por três camadas de roupa, e a chuva continuava caindo tristemente, alguma coisa numa loja de decoração, já fechada num sábado onde apenas quem era obrigado a trabalhar saiu de casa a pé, me fez imaginar a decoração de um quarto aconchegante, algo talvez iluminado por uma confortável luz amarela, e alguns objetos, como luminárias engraçadas de personagens de Mr. PacMan e livros espalhados, e talvez um estilo diferente de música toda noite ao dormir. Mas será que eu poderia dormir segurando a mão dele?

"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua."

(Carlos Drummond de Andrade)

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