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"The Reader", Ferdinand Hodler |
Você até pediu a Deus que me ajudasse a te entender, e peço perdão por ser tão insistente, mas eu entendi, e confesso que lutei para não ficar pensando demais, para não ficar buscando significados ocultos, intenções nas entrelinhas ou coisas desse tipo. Não, tentei não pensar em nada disso e acordei com essa resolução ainda forte no meu peito. Foi só agora a tarde, enquanto fuçava um acervo cheio de quadros empoeirados que, por alguma razão, me veio um daqueles arroubos, e meu peito se encheu e eu só conseguia pensar no quanto te amo. Nada mais importava, e eu sorri discretamente para mim mesmo. Você conseguiu sentir daí?
Aproveitando esse breve anuviar das ideias por conta da minha dopada candura em tomar vários remédios para dormir ao mesmo tempo. Necessário depois da crise brutal de alergia que tive ontem, é o mínimo que mereço, já que o salário nem deu para pagar todas as dívidas e vou ter que sobreviver o mês inteiro com o que sobrou do cartão de crédito, e é isso.
Vou dormir porque amanhã começa tudo de novo, o enésimo suplício. Não vou fazer a barba, nem cortas as unhas, tampouco cuidar da pele, vou apenas dormir porque hoje, isso é tudo e tão somente o que meu corpo, coração e mente aguentam.
Honan, com um laguinho
azul, todo cercado de
bambu.
E estou aqui
dissipando minha vida,
gastando meu cérebro
nos livros sagrados..."
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