terça-feira, 7 de maio de 2024

Perdido entre livros

"The Reader", Ferdinand Hodler

Você até pediu a Deus que me ajudasse a te entender, e peço perdão por ser tão insistente, mas eu entendi, e confesso que lutei para não ficar pensando demais, para não ficar buscando significados ocultos, intenções nas entrelinhas ou coisas desse tipo. Não, tentei não pensar em nada disso e acordei com essa resolução ainda forte no meu peito. Foi só agora a tarde, enquanto fuçava um acervo cheio de quadros empoeirados que, por alguma razão, me veio um daqueles arroubos, e meu peito se encheu e eu só conseguia pensar no quanto te amo. Nada mais importava, e eu sorri discretamente para mim mesmo. Você conseguiu sentir daí?

Aproveitando esse breve anuviar das ideias por conta da minha dopada candura em tomar vários remédios para dormir ao mesmo tempo. Necessário depois da crise brutal de alergia que tive ontem, é o mínimo que mereço, já que o salário nem deu para pagar todas as dívidas e vou ter que sobreviver o mês inteiro com o que sobrou do cartão de crédito, e é isso. 

Vou dormir porque amanhã começa tudo de novo, o enésimo suplício. Não vou fazer a barba, nem cortas as unhas, tampouco cuidar da pele, vou apenas dormir porque hoje, isso é tudo e tão somente o que meu corpo, coração e mente aguentam.

Vou dormir porque amanhã começa tudo de novo, o enésimo suplício. Não vou fazer a barba, nem cortas as unhas, tampouco cuidar da pele, vou apenas dormir porque hoje, isso é tudo e tão somente o que meu corpo, coração e mente aguentam.

Me lembro de uma cena daquela série, em que dizem entre si: "Eu finjo que não vivo aqui" e a outra responde "Todo mundo, cê acha que alguém aguenta enfrentar essa realidade? Eu me apoio no Gin que é uma bebida que me dá muito suporte, mas e o resto das pessoas?" Eu me apoio no sono, do doce, escuro e silencioso sono.

Tenho me sentido bem perdido. Não sei se é efeito de uma ciclagem, não sei se estou ficado eufórico ou depressivo, esse meio-termo é sempre complicado de entender, ou se é do trabalho que realmente me deixado confuso, ou uma junção das duas coisas. 

Ou é a vida, que me deixa assim, 
perdido.

"Tenho uma casa em
Honan, com um laguinho
azul, todo cercado de
bambu.

E estou aqui
dissipando minha vida,
gastando meu cérebro
nos livros sagrados..."

(Giacomo Puccini)

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