terça-feira, 28 de maio de 2024

Retratos desanimados

Ridículo. Adjetivo
que provoca riso, escárnio ou zombaria.
de aspecto espalhafatoso, extravagante.

Passei os últimos dois dias dormindo, é verdade, e em nenhum momento me ocorre o pensamento "mas você poderia estar fazendo outra coisa, poderia estar vendo outras pessoas." Não, em nenhum momento eu sinto que estou perdendo algo em me isolar do mundo lá fora. Do silêncio do meu quarto, do meu sono profundo e dopado, eu sinto que não há mais nada lá fora que possa querer. E o dia hoje está bonito, embora tenha sido obrigado a sair da cama. O sol brilha forte, mas está fresco, até arrisco a colocar um cachecol. Mas o brilho do sol não enche meus olhos. Em verdade, eu só queria poder deitar novamente e dormir sem ter hora para acordar.  

Acho que isso mostra, na realidade, o quanto ando desanimado para tudo. Não se encontra mais em mim a mínima vontade de sair, conhecer lugares ou pessoas novas, senão que encaro a própria possibilidade do ser com pessimismo e tédio profundo. 

Não acho que isso seja um problema, pelo contrário. Uma amiga disse que é melhor não sentir nada do que tristeza, ódio ou solidão, e é exatamente isso. Prefiro olhar o horizonte, belo, e nem mesmo me encantar com sua beleza, do que sofrer o desamor de quilômetros de distância.  Há entre nós um silêncio desconfortável de palavras não ditas e sentimentos que fui deixando pelo caminho, assim como partes de mim que ficaram e que não consigo encontrar mais. O problema não é o sonho, ou o medo, o problema sou eu. O problema sempre fui eu! 

Eu que sou ridículo. Ridículo! Não há outra forma de ver a situação senão esta: que venho sendo ridículo e me humilhado por migalhas, me abrindo enquanto tenho em resposta o silêncio que confirma minhas suspeitas: a culpa sempre foi minha, por não ser bom o bastante. Eu nunca sou o bastante. Eu sou sempre ridículo. 

Tentei encontrar beleza em algum lugar. Descobri artistas novos, estou ouvindo baixinho agora, também presto atenção ao café fumegante na minha frente, acho que meu sangue mineiro falou mais alto, pois está ótimo, também observo as luzes do difusor que há na frente da minha mesa, oscilando entre diversas cores e lançando no ar uma fumaça perfumada de óleo essencial de lavanda e sândalo. Penso se deveria aproveitar a bela luz do dia e tirar algumas fotos, mas não sei... Acho que não vale o esforço.

"Queria te falar... te falar esses nadas do dia a dia que vão consumindo a melhor parte de nós, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento, dessa coisa que não existe mas é crua, é viva, o Tempo." (Hilda Hist)

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