terça-feira, 11 de junho de 2024

Nossos caminhos

Claude Monet

Não é a primeira vez que digo que o cansaço, a depressão, ou como queiram chamar já que acho que se trata da existência mesma, me tirou o brilho e a vontade de viver. Percebo isso na melancolia em que me vi nos últimos dias que, muito embora agitados, mas o corpo não segue o ritmo do coração e, ao ver coisas que deveriam me emocionar profundamente, eu apenas assenti internamente. 

Sei que, para além do cansaço, estava cheio de remédios e, portanto, anestesiado para muitas coisas, mas pensar nisso agora me causa certo desconforto, que os poucos momentos para o qual fico a espera, se tornaram também eles vazios. Não seria de surpreender que a isso também me tirasse já que, ao que me parece, o tempo tudo destrói. Mas isso não é nenhuma novidade, nem para mim e nem para o gênero humano. 

Desde a aurora dos tempos nos maravilhamos e tememos essa que é a verdade mais visível e assustadora de todas: o tempo que passa sem que nada possamos fazer. Não adianta que eu faça a barba com mais frequência e gaste em cosméticos japoneses, isso só atenua leve e superficialmente alguns sinais que, no particular, são sinal da força avassaladora da qual nenhum de nós pode fugir. Montanhas são aplainadas, oceanos secam, folhas caem e arvores gigantescas caem como se fossem pequenos gravetos. O tempo dobra até o aço mais forte como se fosse papel, o que ele não faria com nossos corpos e nossa vontade?

Uma das coisas que sutilmente mexeu comigo foi a constatação do distanciamento. Aquilo que Oswaldo Montenegro já havia cantado muito bem: 

"Faça uma lista de grandes amigos. 
Quem você mais via há dez anos atrás? 
Quantos você ainda vê todo dia? 
Quantos você já não encontra mais?" 

Penso em muitos nomes, que me foram tão caros, tão próximos. Dormimos juntos, sorrimos juntos, fomos ao cinema, cantamos, demos as mãos, choramos... E hoje somos estranhos, apenas nomes nas redes sociais e sorrisos perdidos em meios às lembranças das fotos antigas. 

E ainda hoje vejo ainda a ação do tempo. Vejo que ainda hoje já me afasto de outras pessoas, com a diferença de que não vejo outras se aproximarem. Parece-me que a minha personalidade atual afasta a todos. Quanto aos mais próximos, que já não são tão próximos assim, a cada dia vejo que tomamos caminhos cada vez mais distantes, diferentes. E vejo isso ao prestar um pouco de atenção naquilo que amamos e que damos importância, vejo que eu não encontro par, vejo que não encontro nada além de pessoas que não entendem o que digo ou penso. 

Parece uma lamúria infindável, sei bem disso, e talvez o seja mesmo. Mas, em verdade, meu amor não é compreendido, meu cansaço não é visto, e então, se olho ao redor, me vejo apenas cada vez mais e mais sozinho. 

Seguimos por estradas diferentes, que certamente não nos levam ao mesmo caminho. 

Você percebe isso não é? 

Sei que sabe disso tão bem quanto eu, mas que não aceita essa verdade, assim como eu não aceitei por muito tempo a verdade de que você não me ama. Somos, afinal, pessoas que caminham em caminhos distintos. 

Deveria buscar amar outro, mas não consigo nem enxergar em mim a capacidade de voltar a amar e nem no outro a possibilidade do ser amado. Até aquele jovem que me encantava meses atrás, por quem tinha e alimentava certo quebranto por vê-lo todas as manhãs na parada de ônibus ou na missa, se tornou apenas mais um nome sem significado. 

Ao final não seremos mais do que isso na vida um do outro, nomes sem significado. 

E sabemos disso, 
sempre o soubemos. 
Sabíamos e fingíamos não saber. 

Assim como finge não ver que só há uma maneira de evitar que isso aconteça.

Caminhamos, mas em direções opostas
e apenas vemos agora um pouco das costas um do outro,
pois já chegamos perto da linha distante do horizonte.

Mas ainda há uma maneira, mas ela é apenas hipotética. 
No fim, o que conta é nossa vontade. 

Livre. 

E eu não posso forçar nada, nem mesmo meu coração, muito menos o seu. 

E essa é sua vontade!

Contra minha vontade, então
caminho sozinho. 

Você atravessa um belo caminho, árduo é verdade, mas que te levará a um jardim de delícias.

Não sei por onde vou, não sei para onde vou. 
Mas sei que não vou com você. 

"Deve haver maneira de se pôr o amor em dia sem que a vida continuamente o interrompa." 
(Evelyn Blaut)

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