Pablo Picasso |
É que de repente fiquei triste, por pensar em tantas coisas ao mesmo tempo. Triste por não ter economizado o suficiente, triste porque não consegui me organizar o bastante, triste porque não fui bom o bastante, porque continuo sempre cansado, porque tudo que tento fazer continua sendo medíocre, porque continuo sendo um ninguém, porque não realizei nada, minha casa não é minha, minhas coisas não são boas, eu não aprendi nada, não fiquei mais forte, nem mais inteligente, nem mais bonito e não estou ficando mais novo.
Fiquei triste porque fui rejeitado de novo e não quero amar de novo. Triste porque minha folga acabou, triste porque descansei, mas não o bastante.
O bastante.
Nunca é o bastante.
Meu amor não é o bastante.
Amanhã começa tudo de novo. Essa rotina desgraçada. Ônibus cheio, pessoas chatas me enchendo de trabalho e dificultando tudo pra mim. Queria simplesmente desaparecer, quem sabe voar nessa brisa que entra pela minha janela, e nunca mais ter de ver nenhuma dessas pessoas.
Estou preso no eterno retorno. É uma sorte maldita.
Por isso fiquei triste do nada. Não foi do nada. Fiquei triste por ser esmagado pela verdade. Essa existência é uma droga.
E não foi uma tristeza qualquer, foi profunda, como se de repente fosse lançado num abismo oceânico e lá, no fundo, não vendo mais nem sinal da luz, só ouvia a voz dele, cada vez mais e mais distante.
Hoje o romantismo está no ar, afinal é Dia dos Namorados, mas isso também só faz eu me lembrar de que não fui o bastante. Olho para minha história então como um velho olharia, e veria que nada fez, nada realizou, nada foi suficiente. Agora, ao cabo dessa existência, resta apenas uma casca seca.
regar
os jardins de pedra"
(Jorge Sousa Braga)
Nenhum comentário:
Postar um comentário