quarta-feira, 26 de junho de 2024

Tendo razão

Weeping Woman, Edvard Munch

Eu disse. 

Infelizmente tenho o dom de enxergar ao longe quando algo dará errado. Talvez porque sempre espere o pior? Pode ser, mas de todo modo continuo tendo razão em minhas previsões. 

Não consigo nem contar quantas vezes, nos últimos dias, pensei em dar cabo da minha própria vida. Das mais diversas formas. Pensava, enquanto vinha para casa sentindo o vento frio no rosto, que ninguém poderia dizer, hipocritamente, que não houve sinais e nem pedidos de ajudar: há muito que tudo o que digo é mais do que um mero rumor, mais do que um mero sinal. É um grito, no sentindo poético do termo, pois, embora não grite de verdade, a frequência dos gemidos são tão alarmantes como se saísse em desespero. Mas ninguém parece se importar, acho que todos pensam que eu apenas estou a falar demais e que nunca terei coragem de fazer nada. Como a música que escuto todas as manhãs diz: maybe they just don't give a damn...

Bom, embora ninguém acredite, quando eu mesmo procuro, não encontro outra coisa em meu peito que não seja apenas escuridão. Tomo como minhas as palavras do salmo que diz "saturada de males se encontra a minha alma, e meus pés já se encontram à porta da morte" (Sl 87). Tudo o que vejo, sinto, penso, é em como falhei em tudo e como tudo o mais se mostra tão difícil, tão duro, tão horrendo, que até os mínimos detalhes se mostram mais complicados do que realmente o são, porque a minha mente se corrompeu, porque meu coração secou, porque eu já não sou mais quem era e nem quem poderia ser, eu não sou, eu sou o que restou, e não restou muito. 

Ouço desculpas, por tudo, mas sei que, na verdade, a culpa foi minha, por anos atrás, ter escolhido ter esperança, e então, ao me deparar com a realidade, fui fraco para suportar, e então a verdade me derrotou, e me tornou um homem amargurado, um homem triste, um homem incapaz de organizar uma viagem sequer, um homem que não tem controle ou equilíbrio, uma criança chorona, um não sei quê que fica balbuciando. E então eu vejo o quanto me esforço sem chegar a lugar algum, no trabalho, nas amizades ou no amor, vejo as dívidas que acumulei, as poucas forças que me restara, e então vejo que não posso fazer mais além do que lamentar a tristeza profunda.

Também ouço mensagens de encorajamento, que dizem estar comigo. Não estão, e nem me refiro a presença real ou temporal, me refiro ao fato concreto e absoluto de que, em verdade, eu estou sozinho.

Lamentar que eu queira pensar numa decoração boba para minha casa quando preciso contar os centavos para viajar e ver uma amiga por três dias, quando há meses quero comprar uma máquina de café e não tenho conseguido por nem ter onde colocá-la. São lamentos por coisas bobas, pequenas, mas que vão se aglutinando, mas que, em verdade, são uma reverberação do lamento primeiro, o lamento de desamor. 

Vibrei, e chorei, de alegria ao ver que Both e Newyear, dois artistas que acompanho há alguns anos, vão se casar oficialmente agora que o casamento igualitário foi aprovado na Tailândia. Bom, talvez ainda exista amor no mundo, só não pra mim. 

 "Sem conta são meus gemidos, meu coração a parar..." (Lamentos de Jeremias)

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