quinta-feira, 27 de junho de 2024

Pessimismo ou Idealismo?

Será que estamos sendo pessimistas demais em pensar que não conseguiremos conquistas as mesmas coisas que as gerações anteriores, ou estamos em pleno acordo com a realidade? Coisas como comprar um carro ou uma casa, olho para minhas finanças do mês e vejo o quanto uma coisa está da outra. Será que pensar então na decoração dos ambientes, capas de livros e pôsteres de filmes emoldurados, um oratório com um quadro de Nossa Senhora, uma máquina de café e canecas combinando, não seria isso uma idealização? Sou um tipo de pessimista idealista? 

Admito que ambas as coisas se encontram em mim, Deus e o Diabo é que me guiam, já dizia José Régio. 

Se por um lado me deleito em imagens que nunca vão acontecer, seja ao passar na frente de uma loja, conversando com um afeto ou quando um desconhecido beija minha testa por acidente, por outro eu simplesmente olho ao meu redor, todas as possibilidades, todas as lutas, tudo isso encaro com profundo desgosto. 

Do ponto de vista da eternidade nada disso tem valor, então não deveria me ocupar com esses pensamentos, mas do ponto de vista de um homem fraco e mesquinho como sou, eu penso nessas coisas e elas me afligem a alma.

Tomando de ansiedade, medo, raiva, sangue e cânticos nos lábios eu sinto o quanto preciso de uma profunda purificação dos sentidos e do espírito, de uma longa noite escura que me faça amar de verdade o que precisa ser amado, aprender a caminhar entre as coisas que passam e abraçar as que não passam. 

E então vejo a dimensão da minha consciência, do mapa dos meus problemas, se abrirem, até que eu possa vislumbrar algo como uma solução: a maturidade de me comprometer única e tão somente com a vida intelectual, isto é, com o que é eterno, e não sofrer como quem não possuísse nada de elevado na alma. O homem caminha no lodaçal, mas fita o alto. 

Percebo que as palavras estão desencontradas, são retrato do desalinho em que me encontro. Já não posso buscar a retidão, infantilidade seria querer controlar tudo. Em verdade, o pouco que controlamos é justamente onde está nossa atenção. Ao quê meu coração tem se dedicado? O que tem habitado meus pensamentos?

Percebo que meus pensamentos são apenas amálgamas de confusões que eu mesmo criei e das quais eu não consigo mais escapar, que me prendem como a um peixinho numa grande rede, que não sebe se nada ou e debate, que já não respira, que já não consegue saber se deve continuar ou simplesmente desistir. 

De minha parte, já não quero mais tentar. Darei uma chance a essa viagem, darei uma chance a noite de hoje, darei uma chance, mas não para mim, eu não mereço mais chances, e já não há mais esperança. Então, se de todo serei nada e nada mais que isso, que ao menos possa voltar para casa e dormir um sono solto, profundo, e depois morrer enquanto sambam em cima do meu caixão. Oh, que gozação, não se lembrarão de mim o bastante para profanarem minha sepultura. 

"(...) Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem - muitas vezes por culpa de nossos próprios excessos - pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste, velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbados, mentirosos e adúlteros, pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída à influência divina... Ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão, responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode." (William Shakespeare)

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