sexta-feira, 28 de junho de 2024

Meu silêncio

Tenho ficado em silêncio, distante. Se me perguntam digo que estou ocupado ou com dor e por isso quieto. Na verdade, tenho tentado controlar algumas coisas aqui dentro. A ansiedade cresce, juntamente com o sentimento depressivo que me aperta o peito até faltar o fôlego. Só consigo, por enquanto, enxergar tudo que deu errado e como ainda pode dar. Só consigo não querer, buscar fugir, não encarar, afinal toda verdade é dolorosa demais e, no entanto, não há como parar de contemplá-la, que se impõe firme e forte diante de mim. Estou sempre diante da grande muralha de verdades.

Busquei refúgio na oração, de modo sincero, confessando meus medos, minhas fraquezas sem o invólucro de mentiras que normalmente usamos para os outros. Minha prece mais sincera, diante do Santíssimo Sacramento, foi pedir que ele me levasse, apenas isso. E acho que isso já explica muito. Eu já desisti, de um jeito que não há mais salvação, ao menos não para mim.

Dois pássaros rodopiam ao redor das folhas da camélia que vejo pela janela. Está um pouco frio mas o sol brilha forte. Já tive de ver algumas pessoas bem animadas, animadas demais pela manhã. Agradecendo e sei la mais o quê se passa na cabeça delas. Não sei se consegui esconder o suspiro profundo que dei ao ouvir deles esses absurdos. Como podem agradecer pela existência? Estão cegos ou burros, é a única possibilidade. 

O mundo inteiro gira ao meu redor. Tudo gira. Parece que eu vou morrer. Não são nem dez da manhã e já quero voltar pra cama e só sair de lá na semana que vem.

Como explicar a eles a falta de encanto pela existência? Como explicar que uma tristeza profunda toma conta do meu ser? Como explicar que eu gostaria de poder tapar esse sol para sempre, e mergulhar o mundo todo em trevas? Banhar o chão com sangue de modo que as ruas se pareçam com oceanos carmesim, reduzir toda essa grandiosidade da qual o homem se orgulha às ruínas? Eu quero a destruição, eu quero voltar ao nada. 

Quanto mais, até onde pode descer a pessoa humana? Até onde pode ir a mesquinhez do homem?

"Porque eu quero morrer.  Eu quero desesperança. Eu quero voltar ao nada. Mas eu não posso.  Ele não vai me deixar voltar a inexistência. Ainda não. Eu ainda existo porque ele precisa de mim. Mas quando tudo acabar, quando eu não tiver mais utilidade, ele vai me abandonar. Eu rezei pelo dia em que ele me abandonaria." (Neon Genesis Evangelion)

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