quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor.

(Vinicius de Moraes)


Vinicius foi muito feliz em sua primeira afirmação... As tristezas da vida não tem fim, apenas as alegrias encontram um findar ao término de um percurso...

É comum as pessoas se habituarem as alegrias, e se acomodarem a esse estado. No entanto, quando surgem as adversidades da vida, e as alegrias são destruídas, como um castelinho de areia é derrubado pela maré numa praia revolta, as pessoas caem no desespero. 

Podemos sofrer durante uma vida inteira, ao menor sinal de que o sofrimento se foi, mergulhamos de cabeça nas alegrias e nos esquecemos de tudo o que aprendemos com ele. Na verdade o sofrimento não se vai, apenas se esconde, assume outra forma, adormece, mas ele nunca desaparece completamente. Já a felicidade sim. 

As alegrias são todas breves, efêmeras, como bem disse o autor, voam como plumas ao vento. E assim acontece com tudo de bom que tentamos reter para nós. Principalmente quando falamos de pessoas. Sempre que alguém começa a nos fazer bem, e começamos a nos sentir confortáveis perto dessa pessoa, o destino dá um jeito de a retirar de nós. 

Penso que essa seja uma pedagogia de ferro. Uma forma de nos ensinar a não nos apegar a nada. O sofrimento constante já nos ensina a ter força e a suportar com virilidade as adversidades, e logo não cair de tristeza quando as alegrias voarem com o vento.

Mas dificilmente aprendemos essa lição. Pelo contrário, continuamos insistindo em tentar reter o que nos faz bem, mesmo sabendo que a alegria é livre e não pode ser mantida nos cativeiros de nossos braços. 

E infelizmente a alegria continua sendo assim, fugaz. Superamos todos os sofrimentos, todas as adversidades, aprendemos a conviver com as dores, para aproveitar apenas alguns breves momentos de alegria, momentos que se acabam com a mesma rapidez com que chegam. 

Mas a felicidade, mesmo passageira, tem em si uma beleza que nada no mundo pode igualar. O poeta a compara a delicada beleza de uma flor, e do orvalho que brilha suavemente em sua pétala. Essa é uma forma delicadíssima de dizer que no mundo, não há beleza mais pura que a da felicidade. Para ele, sua felicidade reside em observar sua namorada dormir.

Penso então em minha felicidade...

Minha felicidade tem um sorriso sincero e sagaz. Um sorriso que é capaz de quebrar as barreiras mais fortes que eu possa erguer. Um sorriso que me faz derreter e capaz de transformar o meu dia mais cinza num ensolarado domingo de verão. Um sorriso tão belo quanto aquela gota de orvalho brilhando delicadamente numa pétala de rosa.

Minha felicidade tem um cabelo negro como o ébano, que as vezes cai sensualmente despenteado por sobre a testa. Essa visão é pra mim uma tela pintada pelas mãos da própria deusa da beleza, algo que só ela poderia conceber em perfeição e graça. Uma beleza tão profunda que chegou a despertar até mesmo a inveja de Apolo, aquele que era o simbolo da beleza masculina. Mas a beleza de Apolo nem sequer se aproxima da beleza da minha felicidade.

E por falar em deuses, minha felicidade parece ter algum tipo de parentesco com a deusa da sabedoria, Atena, pois mesmo sendo uma felicidade jovem, se mostra muito mais sábia e madura do que eu jamais serei.

Me atreveria a dizer que minha felicidade foi uma criação dos deuses num momento de embriaguez, em que cada um imprimiu nela o que tinha de melhor. Atena lhe deu sua sabedoria, Afrodite e Apolo sua beleza, Artêmis sua coragem e Zeus sua presença poderosa, que traz a atenção de todo o mundo para si... 

E assim é minha felicidade...

Mas como não poderia deixar de ser, minha felicidade é passageira. E como a pluma ela também vem, flutua a minha frente e logo segue seu caminho, rumo ao infinito. 

Me deixando sozinho... 

Somente a observar o céu para onde ela voou, e imaginando quando ou se um da voltará... 

E assim é minha felicidade!

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