segunda-feira, 10 de outubro de 2016

(In) compreensão

Não eu não devia estar escrevendo nessa manhã de segunda. Deveria estar terminando meu TCC ou fazendo qualquer outro trabalho da minha pós, que aliás, já está em vias de acabar, graças a Deus. Mas assim como ontem a noite eu precisava escrever ao menos um pouco que fosse, hoje eu também tenho algumas coisas que precisam ser ditas. 

Ontem cheguei a uma triste, porém imutável, conclusão. A de que estamos sim, todos sozinhos e de que, não importam os nossos esforços, continuará sendo impossível fazer com que duas pessoas se compreendam. O estado de entendimento, de compreensão é inacessivel, inalcansável aos homens. Isso é fato.

Nossas consciências formam um escudo ao nosso redor, uma espécie de Campo A.T., que mesmo sendo quebrado em alguns momentos raros, nunca pode ser desfeito. Isso porque nos fechamos tão dentro de nós mesmos que se tornou praticamente impossível um alcançar o âmago da existência do outro. 

Já disse várias vezes, baseado nas palavras do Mestre Anno que disse que "Existe um vazio bem no âmago de nossas almas. Uma imperfeição fundamental que tem assombrado todos os seres desde o primeiro pensamento. Em um nível primitivo, o homem sempre esteve ciente da escuridão que mora no núcleo de sua mente. Temos procurado escapar desse vazio e do temor que ele provoca, e o homem procura preencher esse vazio." (Dra. Ritsuko AkagiNeon Genesis Evangelion, Ep. 25)

Na busca para preencher esse vazio o homem se fechou em si mesmo. Se esqueceu do amor, e no vazio se angustiou. E é essa angustia que é experimentada por todos os homens desde o início dos tempos. Um pai não entende seu filho, um amigo não entende o outro, um namorado não entende seu parceiro.

Apesar de todos os esforços, apesar de toda declaração de sensibilidade, cada pessoa vive num universo único, numa dimensão pessoal, inalcansável para todos os outros e impossível de ser vista, compreendida, abarcada ou tocada por qualquer um que seja. Em outras palavras, estamos sozinhos. Somos sozinhos e nada pode mudar isso.

Talvez aquela teoria, a da Instrumentalidade Humana, possa resolver nossos problemas, mas até que alguém consiga uma forma de nos levar aquele estado inicial, aquele útero primitivo que perdemos muito tempo atrás, continuaremos a viver nos ferindo e machucando uns aos outros. 

Esse exemplo do ferimento é o que melhor nos fala dessa impossibilidade de compreensão. Por mais que uma dor seja profunda em uma pessoa, nenhuma empatia é capaz de nos fazer compreender de fato essa dor. Tudo o que essa empatia é capaz de fazer é imitar uma possível reação imaginária aquela dor, aquela reação, e isso é algo triste demais de se reconhecer, mas que deve ser admitido.

Todas as nossas tentativas de comunicação, principalmente as artes, são inúteis frente a esse obstáculo intransponível. Funciona mais ou menos assim: quando um de nós, artistas, se propõe a expressar algo de seu interior, do íntimo de sua alma, através de uma forma externa, ele acaba por desinteriorizar seus sentimentos. O que estava antes no plano das ideias se materializa então no plano tangível, na forma da partitura de uma musica, de uma escultura ou de um texto. No entanto, a nossa deficiência em comunicação é tão grande que essa obra se torna incompreensível a todos que a contemplam. Por mais que nos aproximemos do real significado delas é sempre um significado aproximado. Não real. Por exemplo, mesmo depois de tanto tempo, tenho certeza que ainda não compreendo os sentimentos de Tchaikovsky ao compor sua Sinfonia Patética. Todas as interpretações que fiz dessa obra foram fruto dos sentimentos que eu tinha naquele momento, não a alma do compositor que conseguiu chegar até mim através da mesma. No máximo pude captar nuances do mesmo ou do regente. Mas nada além disso. A essência da obra, o sentimento do coração dele está para sempre perdido, fora do meu alcance ou de qualquer outra pessoa.

Por isso gosto dessa comparação que diz que somos dimensões paralelas, que nunca se cruzam, nunca se encontram, nunca se misturam. Vivemos todos em mundos diferentes. E as vezes esses mundos desmoronam, despencam. 

De fato, tudo que tem forma um dia deve deixar de existir e ceder sua matéria para outra forma, já no ensina aquela lei da química, ou da física. Nossos universos também. Atualmente meu universo se encontra em colapso. Colidiu-se com outro universo e não aguentou o poder que resultou dessa explosão. Agora suas estruturas mais básicas se destruiram completamente, e o mundo despenca sobre mim. 

Os outros são capazes de entender isso? Não mesmo! A empatia deles é fingida e superficial. Tal qual a minha com os problemas dos outros. Tudo o que as pessoas são capazes de fazer é julgar, apontar e tirar suas próprias conclusões sobre uma dor sem saber o quanto ela dpo de verdade.

"O que sabe ao meu respeito para se sentir no direito de me classificar e julgar?!" 
(Albáfica de Peixes)

Mas as pessoas não pensam desse jeito. Não medem o peso de suas palavras antes de as dizerem e sequer são capazes de perceber também o quanto elas pesam, machucam e ferem. Somos assim, insensíveis, só conseguimos compreender a nós mesmos e ignoramos todo o resto do mundo que nos cerca. Somos assim. Classificamos, julgamos, mas não compreendemos. Somos capazes de sentir dó do cachorrinho que morre o filme da Sessão da Tarde mas ignoramos o pobre faminto que segura nossa roupa implorando por um prato de comida. Irônico não? As criaturas ditas racionais tem mais compaixão com os irracionais do que com seus semelhantes. 

Infelizmente até o dia em que conseguirmos encontrar uma forma de superar essa questão de compreensão continuaremos a colidir e a destruir uns aos outros. Impiedosamente. 

Não posso deixar de ceder ao meu lado sonhador e não imaginar um mundo onde as pessoas não se machuquem e onde amar não seja errado. Onde sentir não seja exagero ou capricho, e onde possamos ajudar uns aos outros de verdade. Onde palavras e canções de amor toquem de fato os corações, e não apenas despertem emoções. Um mundo de verdade, um mundo de compreensão.

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