terça-feira, 18 de outubro de 2016

O que estamos fazendo com nossas vidas?

Bom, diariamente somos bombardeados por dezenas de notícias ruins. Não é de hoje que os noticiários e a internet estão repletos de coisas trágicas. Não seria se de se estranhar que desenvolvêssemos uma certa resistência a essas notícias portanto. De tanto ouvir sobre o mal acabamos nos conformado com ele e ele passa a não nos incomodar mais.

Meu psicólogo me alertou, já em nossas primeira consultas (muitos anos atrás) para o perigo que poderia ser essa mania de ver tudo como "normal". Tudo passou a ser normal, mesmo os casos mais terríveis de atrocidades receberam a alcunha de normal por não nos causar mais impacto. 

No entanto, mesmo num mundo onde tudo é normal, algumas coisas as vezes chama nossa atenção, por motivos desconhecidos, ou não. Enfim, as vezes algo rompe com nossa barreira da normalidade e se mostra na verdade algo extraordinariamente ruim, que nos arranca de nossa insensibilidade de sempre nos coloca em movimento numa busca por mudança ou numa reflexão profunda, capaz de provocar em nós essa mudança. 

Ontem eu me surpreendi com uma notícia, sobre um garotinho que teria morrido por conta de uma aposta num jogo online. Mesmo tendo repercutido em todas as mídias, prefiro transcrever a notícia aqui antes de dizer os motivos pelos quais ela se tornou um choque tão grande pra mim: 

'Brincadeira terminou em morte', diz tio de garoto que morreu após jogo

Gustavo Riveiros Detter, de 13 anos, foi velado na manhã desta segunda. Após ter perdido um jogo online, ele teria sido desafiado a se enforcar.

O corpo do garoto Gustavo Riveiros Detter, de 13 anos, foi velado na manhã desta segunda-feira (17), em Santos, no litoral de São Paulo. Após ter perdido um jogo online, ele teria sido desafiado pelos participantes e se enforcou. O caso aconteceu no último sábado (15) e está sendo investigado pela polícia.

A morte de Gustavo despertou a preocupação de um dos tios da vítima para os perigos da web. Para Marco Riveiros, a morte está sendo “vendida” em forma de brincadeira pela internet.
O garoto morreu menos de 24 horas depois de ter enrolado uma corda no pescoço. Ele estava na casa do pai, em São Vicente, no momento do incidente, na noite do sábado. Ele foi reanimado por familiares e socorrido com vida para o hospital. Mas o garoto não resistiu e morreu na manhã do domingo (16).

Riveiros, que é tio da vítima, afirmou ao G1 que o sobrinho estava jogando League of Legends no computador com outros três amigos, até que ele perdeu o jogo. Após o ocorrido, o tio de Gustavo analisou conversas do jovem com outros colegas e chegou à conclusão de que o fato foi acompanhado em tempo real por outros jogadores.

Ainda segundo o tio, os participantes teriam induzido Gustavo a se enforcar, como se fosse um desafio, já que teria perdido o jogo. A prática é conhecida como Choking Game ou “jogo da asfixia” e acontece quando a pessoa interrompe o fluxo de ar com as mãos ou com objetos para induzir desmaios, tontura ou estado de euforia.

“O nosso sentimento é de que isso não aconteça com outras famílias. O meu questionamento é se isso vai alertar todas as pessoas, se vai fazer com que caia a ficha. Ou vai precisar que a gente perca outros meninos, com um futuro brilhante pela frente?”, questiona.

Marco acrescenta ainda que, em uma das conversas, um dos adolescentes diz que ‘o Detter foi brincar de novo de se enforcar’. “Isso aconteceu antes e não deu certo? Quantas tentativas são feitas? Quantas vezes isso acontece nas escolas, nas casas?”, indaga.

Após uma breve investigação da própria família do jovem, eles acreditam que, por trás desse fato, há uma situação muito crítica e perigosa. Para Marco, estão “vendendo” na internet a morte em forma de jogos e brincadeiras. “É uma situação em que todas essas crianças e adolescentes não tem a menor condição de fazer um juízo de valor. O meu sobrinho não viu esse risco, já que tentou mais de uma vez. Certamente, alguém o induziu”, lamenta.

Visivelmente abatido, Marco foi o porta-voz da família durante o velório do garoto, em Santos. Ele ainda fez um alerta: “A realidade das crianças e adolescentes de hoje é dentro da tela de um computador. O que as mães, as avós, entendem de tecnologia? Será que elas sabem o que é uma rede social? O que é um vídeo perigoso ou não? Com quem os seus filhos estão falando? Quem são essas pessoas que jogam online?”, desabafou.

A morte do menino foi registrada no 7º DP de Santos, mas será investigada pela Delegacia Sede de São Vicente. Os policiais já começaram a colher provas e devem fazer uma perícia no computador da vítima, além de ouvir familiares e amigos que estavam jogando o game com o garoto pouco antes dele morrer. 

(Fonte: G1)

Enfim, antes de mais nada, não venho fazer um texto bobo dizendo que o jogo é coisa do demônio ou coisa do tipo. Não. As redes sociais, já estão repletas de coisas assim, e em especial o Facebook já tem uma centena de textos endemonizando essas coisas. 

Não penso que a culpa tenha sido do jogo, tampouco. Obviamente a culpa foi de quem o desafiou a fazer aquilo, e do pobre que não foi capaz de emitir uma opinião nem minimamente crítica sobre o desafio. Francamente gostaria de ter conhecido o rapaz para melhor entender como isso aconteceu.

Antes de ir além eu também devo acrescentar, e podem me julgar por isso, que o que me chamou atenção para a matéria foi a foto do menino. Sim, eu o achei incrivelmente bonito, de um sorriso encantador e justamente por isso me comovi tanto com sua morte, mesmo não tendo nenhum tipo de contato com ele ou com o jogo em questão. Mas como disse anteriormente, isso me tocou e me fez perguntar: o que nós, jovens, estamos fazendo com nossas vidas? 

O motivo por detrás do meu choque pode ter sido bobo, admito, mas penso que meu questionamento não o seja. Na verdade, é de se escandalizar pensar que um rapaz tão novo, com uma vida toda pela frente, tenha posto um fim ao seu futuro, possivelmente brilhante, de uma forma tão boba, tão idiota na verdade. 

Volto a falar que não estou endemonizando o jogo. Poderia ter acontecido num futebol ou em qualquer outra brincadeira. O fato é que a vida dele acabou por um motivo idiota. E me assusto com a forma como tratamos o que temos de mais precioso: a vida. Onde estava o juízo dele? E dos amigos? E o pai que não o ensinou o que se deve ou fazer na internet? 

A vida dele acabou, e a de sua família também. Ele não vai saber como é ter uma namorada. Não vai saber como é tirar carteira ou entrar num faculdade. Não vai mais sair com os amigos e não vai mais fazer aquilo que provavelmente era o que mais gostava: jogar. Sua vida acabou e não foi de uma forma heróica, bela. Infelizmente foi de uma forma trágica. E penso que não podemos, eu não posso, deixar que o exemplo dele seja perdido ou esquecido. Não posso permitir que a vida seja tratada de uma forma tão banal como essa, capaz de ser ceifada por algo tão simples... 

Olho ao redor e vejo uma porção de pessoas que, de uma forma ou de outra, também apostam suas vidas em jogos imbecis. Quando alguém se entrega a bebida ou as drogas de forma voluntária, não está fazendo melhor do que os amiguinhos que o levaram a se enforcar. Muito pelo contrário, vejo adultos, pessoas vividas e sabidas arriscando a própria vida do mesmo jeito. 

Ele não tinha consciência do que fazia, não chegou a descobrir o valor da própria existência. Mas e nós, que ficamos, e que temos a oportunidade de descobrir o quanto vale viver, deixaremos o exemplo desse passar? 

Digo que minha forma de ver a vida mudou desde que li essa notícia. Pode parecer bobo devido ao motivo que apresentei, mas eu não verei minha existência mais da mesma forma. E lamento muito por sua jovem vida ter terminando tão cedo. Fico me perguntando como poderia ter sido seu futuro, se seria uma pessoa fantástica... Enfim, devaneios a parte, muito me machuca a morte de um garoto tão novo e tão bonito de uma forma tão gratuita e vazia como foi. 

Que tenhamos a sensibilidade de saber encarar as dificuldades da vida sem abrir mão dela. De não desistir de tudo em razão de prazeres ou de coisas tão bobas e passageiras. Que saibamos qual o real valor de viver. Nós temos essa oportunidade, coisa que ele provavelmente só veio a aprender nos últimos momentos de consciência que teve, mas que não pode concertar o erro que cometera. 

Não ponhamos um fim a nossa vida por conta de nada. Não vivamos como se nada tivesse importância. Nós somos importantes, nossa vida é importante, e nada no mundo pode dizer o contrário. Nada vale mais do que isso. Nenhuma brincadeira, nenhum momento de prazer, nada nem ninguém pode dizer que não valemos nada, que não somos importantes.

E ainda assim continuamos morrendo por causas bobas. Ainda continuamos nos arriscando por conta de nada. Ainda assim continuamos tratando nossa vida como se ela não tivesse valor algum. 

Enfim, que o exemplo dele sirva para que possamos dar valor a esse que é o maior dom que um dia já recebemos, a vida. Que a família dele seja confortada nos braços de Deus, e eu rezo sinceramente para que a alma dele encontre misericordia e que ele possa nos ajudar a dar valor e a compreender o que de fato nossa vida significa.

+ Requiem aeternam donna eis Domine. Et lux perpetua luceat eis. + 
+Dai-lhe Senhor, o descanso e a luz eterna.+

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