terça-feira, 11 de outubro de 2016

O eco da minha própria voz

Parece que estou passando por uma onda de inspiração nos últimos dias. Mas essa onda é também uma faca de dois gumes pois, se por um lado eu tenho postado mais de um texto por dia, isso significa que estou com a cabeça a mil por hora, e confusão nem sempre é sinônimo de escrita de qualidade, muito pelo contrário. Mas de qualquer forma, os últimos dias tem sido um grande desafio para mim e por isso acho que tenho escrito tanto, pois é a única forma que tenho de extravasar o volume crescente de sentimentos em ebulição dentro de mim. 

Também tenho escrito pois é a única coisa que tenho tido vontade de fazer. Além de ouvir música e sonhar com realidades imaginárias. Não tenho conseguido me concentrar na faculdade e muito menos em outras atividades. A igreja (ou melhor, as pessoas da comunidade) tem me tirado a paciência quase tanto quanto minha família e como resultado temos um Gabriel nervoso e choroso pelos cantos, que ta surtado ouvindo uma centena (literalmente) de albuns de vocaloids japoneses. 

Mas qual o motivo por detrás de tudo isso? Nos últimos dias tenho falado de dor e tristeza, e de algo ruim que irá ou que já está acontecendo. No entanto eu não acho que seja capaz de responder a essa pergunta. Pra dizer a verdade eu não faço ideia do que esteja acontecendo comigo.

Só sei que fui acometido por uma grave enfermidade na última semana, o que me resultou em muitos momentos de introspecção, de reflexão e acho que isso me fez mal. Fiquei pensando demais no que não devia e por isso um monte de coisa que eu tinha sepultado, ou acreditava ter sepultado, ressurgiram pra me devorar novamente.

Digo das coisas do meu passado não tão distante. Sentimentos que deveriam ter morrido mas que não se foram completamente como eu supunha. E não me refiro a nada tão óbvio quanto meu último relacionamento, não, me refiro a falsas amizades que me abandonaram. Isso bateu e doeu mais do que deveria. E eu fiquei pensando, no quanto me sacrifiquei e me ofereci por esses "amigos" que se foram sem nem olhar para trás. Que me deixaram sem pestanejar; 

E aí, como se isso não fosse suficiente pra deixar minha mente perturbada mergulhada no completo caos, ainda brotaram (do inferno, tenho certeza) vários outros sentimentos errados. Desejos de vingança e outras coisas que temo escrever pois as palavras tem certa dose de poder. Mas são de fato coisa horríveis que normalmente não passam pela cabeça de uma pessoa normal. E eu fico revirando essas coisas ruins dentro de mim, sem conseguir me livrar delas completamente. Apenas fico pensando sobre e sofrendo com isso. E claro, pensando também em milhares de possibilidades mirabolantes em que eu poderia viver sem passar por tudo isso. 

Me entrego então aos devaneios de um homem apaixonado pelo sofrimento... Um amante inveterado que parece perseguir a própria morte com afinco. Mil imagens se abrem na minha frente. Mil mundos, mil chances de ser feliz. Mas todas elas são apenas um esforço da minha cabeça para não me deixar enlouquecer.

Tudo não passa de uma farsa. 

Mentiras criadas para eu me sentir melhor mas que já não surtem mais efeito, apenas me fazer sentir mais dor, por contemplar versões alternativas do meu eu que não sentem a dor que sinto. Isso faz com que eu perceba o quão frágil e mentiroso eu sou. Sou uma boneca de trapos, sem vontade própria, sem vida, completamente controlado pelos que me cercam e ditam o que devo ou não fazer. Inventei um mundo completamente louco apenas para me refugiar. Como fez Shinji Ikari no início do processo da Instrumentalidade Humana iniciada por seu pai... 

- Desejou um mundo fechado. Que fosse confortável pra você.
- Você o desejou para protegê-lo de sua fraqueza. 
- Para proteger seus poucos prazeres.
- Isso é simplesmente o resultado do seu desejo.
- Sem seu mundo fechado. Num mundo onde só você ter permissão pra estar outros não podem viver com você!
- No entanto, você desejou fechar o mundo que o cerca. 
- Seu desejo ejetou coisas que você não gostava e criou um mundo isolado e solitário. 
- Esse é o mundo que seus desejos criaram. Um céu particular nos recessos da sua mente. 
- É assim que acaba, esse é um dos muitos finais possíveis. 
- Esse é um final que você provocou sobre si mesmo, escolheu esse destino.
(Hideaki Anno)

A dor que tanto falo é a do abandono, a da solidão. Ironicamente estou sempre cercado de pessoas, sejam amigos ou parentes, mas quanto mais pessoas ao meu redor, mais sozinho me sinto. Mais incompreendido. Não tinha notado até o momento o quanto essa dor é autoinfligida. O quanto sou masoquista por me obrigar a viver dessa maneira. Que qualidade mais desprezível...

Eu sou uma criança birrenta. Uma criança boba daquelas bem irritantes que gritam pelos pais nas vitrines das lojas sem perceber o quão ridículas parecem aos olhos dos outros. E tenho certeza que é isso que pareço aos outros: um dramalhão exagerado sem nenhum sofrimento de verdade que no entanto só sabe reclamar da vida maravilhosa que tem. Ora, se até meu namorado jogou isso na minha cara, então deve ser verdade. Mas continuo a gritar como uma criança. A gritar e a implorar por ajuda. Mas estou gritando numa sala vazia, estou gritando para o nada, e nem sequer o eco de minha própria voz eu consigo ouvir, pois até ele se perde em meio as ondas que minha mente produz para fugir do medo e da dor dessa mesma solidão.

Porém eu não tenho forças pra mudar isso. Eu sou assim, e mesmo achando que isso significa que estou me dirigindo para minha própria morte, eu não acho que conseguiria mudar nem se quisesse. E as coisas continuarão a ser assim. Logo mais eu irei me tranquilizar e ficar assim por mais algum tempo, e logo mais outra dessas crises existenciais voltaram a me abater.

Digo crise existencial pois é isso que tenho feito com mais frequência nos últimos dias: me questionar sobre os motivos por detrás dessa minha existência patética. Patética pois cheguei ao ponto de ver utilidade até mesmo nos vermes que devorarão minha carne na terra, mas não consigo encontrar um motivo pra continuar insistindo nessa vida tão inútil e improdutiva. E no entanto eu sou covarde demais para botar um fim a essa mesma vida. O resultado? Milhares de textos sobre essas crises intermináveis e muito dinheiro gasto em tarja preta me manter capaz de continuar vivendo com o mínino de sanidade. O mínino, pois no meu caso isso já é muita coisa.

Como disse no começo, quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, e isso se verifica bem em cada uma das linhas que acabei de escrever. Não só não fazem o menor sentido como também não servem para absolutamente nada além daquilo a que se prestaram no princípio da formação desse blog: ser um local de desabafos. E no entanto eu não me sinto muito melhor do que estava quando comecei a escrever. Sinal de que ainda não encontrei uma forma válida de transmitir os afetos da minha alma para o plano exterior. Mas por hora, como é o que tem me servido da melhora maneira, devo me contentar com isso. 

Acho que por hoje é só. A menos que eu resolva me levantar no meio da noite pra dizer mais alguma coisa... Fica apenas o questionamento: O que eu devo fazer? 

"A verdade é subjetiva. Você mal pode dizer o que pode sentir. É fato." 
(Hideaki Anno)

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