domingo, 9 de outubro de 2016

Psicologia de um vencido

Mais uma daquelas noites em que me sento aqui de frente para o computador sem nenhuma ideia fixa na mente, apenas com uma necessidade forte de dizer algo que ainda não sei o que é. Cheguei já há algum tempo, todos já estão dormindo, e eu estou aqui, sozinho no escuro, ouvindo Utada Hikaru e pensando num milhão de coisas...

Esse fim de semana não está entre os melhores. Nem de perto. Passei muito mal, pois meu corpo ainda sofre com as mudanças climáticas e dos medicamentos do meu tratamento permanente de crise respiratória, e de quebra ainda me estressei pra caramba em casa e na igreja. Normal. Como se já não bastasse, ainda sinto aquelas malditas borboletas no estômago me trazendo o mal presságio de que algo bem ruim tá pra acontecer. Odeio isso.

Sabe quando parece que a atmosfera ao seu redor muda para se preparar para algo grande? Como quando os pássaros voam para longe ou se escondem nas copas das arvores antes de uma tempestade. Mesmo que o céu ainda esteja claro e límpido, o instinto deles não falha e a tempestade é certa. Não sei ainda o motivo, mas diria que os problemas que enfrentei até aqui não serão nada comparados ao que vem por ai. Claro que isso faz com eu me estristeça e fique deprimido (mais do que de costume) e já comece a sofrer antecipadamente. Mal de quem tem ansiedade. Haja lexotan no mundo!

Talvez não seja nada demais. Por outro lado pode ser também um alerta para que eu fique de prontidão. Quem sabe eu não tenha conseguido sobreviver a guerra, mas a apenas uma batalha... 

Acho que isso se tornou problema de quem já foi muito decepcionado. Além do vitimismo exacerbado que eu destilo aqui, claro. Essa sensação de que a qualquer momento tudo vai voltar a desmoronar. Talvez a estrutura que eu tenha montado para tentar me reerguer venha a se mostrar frágil demais e prestes a desmoronar novamente em cima de mim. De qualquer forma, me sinto como disse Augusto do Anjos, em sua Psicologia de um vencido:

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!

Me sinto como esse pobre derrotado, vencido pelo mundo, prestes a ser devorado pelos vermes, sem deixar vestígio nenhum de minha passagem por sobre a terra. Talvez seja esse sentimento estranho o prenúncio de minha própria morte. 

Bom, admito que minha vida já superou as expectativas de todos quanto a sua duração. E convenhamos que alguém com meu estado de saúde, tanto física quanto psicológica, não deveria perder tempo sonhando com uma vida longa. Agradeço por cada dia, pois ele pode ser o último, embora admita que tenha descuidado muito de minha saúde espiritual atualmente, o que põe em risco algo muito mais importante do que minha vida: minha alma!

Talvez esse sentimento seja efeito das repentinas crises das últimas semanas. Tudo resolveu atacar: asma, sinusite, rinite, bronquite e a bendita da ansiedade. Ah, o que seria de mim sem as loucuras da ansiedade não é mesmo? 

Claro, pessimismo também é meu forte, então pode ser que eu esteja exagerando. Mas mesmo dizendo isso pra me acalmar eu posso sentir os tentáculos gelados do mal se aproximando de mim. Não sei o que significa nem como posso fazer para me defender. Só sei que, acho que estou prestes a morrer!

Uma vontade horrivel de chorar me vem agora. E não se trata daquele choro reconfortante, que lava a alma, não, é aquele ruim, que traz para fora as amarguras do coração e que refletem as decisões erradas do meu passado. Cada pesada lágrima que cai sobre esse teclado é como um grande quadro onde estão pintadas as burradas que já fiz. As muitas horas dedicadas a pessoas que não mereciam. Os esforços inúteis. Tão inúteis ou mais do que eu. Quanto tempo perdi olhando aquelas fotos achando que fazendo isso teria algum tipo de influência sobre o coração de quem nelas estava? Tempo que não volta mais, tempo perdido. 

Perdido.

Me sinto perdido. Não sei o que fazer. Pra onde ir. Com quem falar. Alguém por favor me diz o que fazer! Alguém por favor me ajuda... Não quero morrer aqui nesse lugar. Não quero ser esquecido aqui. Aqui é frio e gelado, aqui não tem vida, aqui não tem amor.

Amor.

O que é o amor? Por que sinto tanta falta de algo que não sei o que é? Aqui não tem amor, só o escuro e o frio. Não tem ninguém pra amar. Não posso viver sem amar. Não posso viver sem ser amado. Tenho medo. Medo nunca mais amar. Medo de não ser amado.  

 - Você nega e tenta anular essa história da sua realidade. 

Por causa do medo

- Porque ela pode não ter forma humana. Porque então meu eu presente pode deixar de existir.

Isso é medo

- Isso é o que você teme? Que você possa se tornar nada? Está com medo de que possa desaparecer da mente dos outros em outra existência. 

- Eu tenho medo, porque isso? 

- Porque seu atual eu jamais teria existido!

Está com medo não é?

- Porque você vai deixar de existir, você vai deixar de existir...

Está com medo não é?

- Não, não estou.  Eu sou feliz.  

Porque eu quero morrer.  Eu quero desesperança. 
Eu quero voltar ao nada. Mas eu não posso.  Ele não vai me deixar voltar a inexistência. Ainda não. Eu ainda existo porque ele precisa de mim. Mas quando tudo acabar, quando eu não tiver mais utilidade, ele vai me abandonar. Eu rezei pelo dia em que ele ma abandonaria. 

Mas agora... Agora eu tenho medo. 

(Rey Ayanami)

Esse é o resumo do meu medo. Deixar de existir. Não ser amado. Não conseguir amar. Aparentemente eu vivo de compaixão e consigo isso com essa minha patológica necessidade de atenção. Caso pra uns três anos de terapia, no mínimo, mas enfim, pobre não faz terapia, no máximo escreve num blog. 

Melhor ir dormir e tentar esquecer tudo isso um pouco. É muita neura pra uma semana que ainda nem começou....

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