sábado, 15 de outubro de 2016

A morte como transitoriedade Pt. 2

Parece que algumas coisas de fato merecem ser enterradas, sepultadas. Enterrar ou destruir lembranças físicas pode ser uma boa maneira de sepultar as lembranças do coração também, e é isso que tenho feito.

Algumas fotos, uma caixa de alianças e algumas cartas. Coisas que me mantinham preso num passado que já morreu foram enterradas, simbolizando externamente o que devo fazer em meu próprio coração. Todas lembranças boas, dos momentos mais felizes que tive em minha vida, mas que agora se tornarão parte da terra e semearão a felicidade de outras pessoas. 

Uma das palavras que mais tem me marcado ultimamente é "TRANSITORIEDADE", inclusive escrevi sobre isso já na úlima semana, mas acho que como o fiz em forma de conto, talvez não tenha me expressado corretamente. Volto a tratar sobre ela agora, mais sóbrio dessa vez. 

Acontece que as coisas todas seguem um ciclo existencial. Aquele princípio que diz que "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" se aplica tão bem a nossos sentimentos quanto nas provas do ensino médio. Tudo nasce, muda, morre e continua a mudar. Assim como pode parecer um pouco mórbido pensar que a terra que pisamos hoje está repleta dos restos de pessoas de séculos, quem sabe milênos atrás, e que daqui algumas centenas de anos, seram nossos restos a serem usados para sustentar outras vidas.

O mesmo ocorre com os sentimentos. E agora tendo em mente um caso específico que tem me rendido bastante dor, eu creio ter chegado numa boa conclusão sobre ele. Houve um sentimento que nasceu, amizade, e esse sentimento se modificou para o que eu acredito que tenha sido amor, de fato eu continuo a acreditar que tenha sido amor. E esse sentimento morreu, mas não deixou de existir, se modificou. Virou outra coisa. Agora penso que ele agora more no coração de outra pessoa, e vai alimentar as paixões de uma outra realidade. Como aquelas memórias enterradas, que impregnadas de sentimento, serão absorvidas pela terra, e um dia darão como frutos novos sentimentos. Pelo menos é nisso que eu acredito. 

Não gosto de pensar que as coisas deixem de existir. Acho que a ideia de morte como transitoriedade seja uma realidade mais agradável portanto. Como aprendemos no cristianismo, que a morte não é o fim, muito pelo contrário, é apenas uma passagem pro verdadeiro recomeço, pro real! Penso que não deixaremos de existir, mas apenas que voltaremos aquele útero primitivo que perdemos a muito tempo. Logo, tudo seria uma eterna tranformação. E note que disse transformação e não evolução, pois não há um ponto último a ser alcançado, um estado de perfeição, mas apenas estados mais ou menos elevados, que variam entre si. As vezes alcançamos tamanho estado de progresso que tudo precisa ser destruido para depois ser reconstruído. 

Aceitar essa transformação faz parte do processo, mas não necessariamente é importante pra que ele aconteça. Pude notar isso quando as coisas se modificaram sem meu consentimento, mas que agora eu consigo ver e aceitar. Outras que ainda não consegui digerir, mas vamos aos poucos com isso não é mesmo? Me obriguei a superar algumas coisas, outras estão em vias de se concretizarem também. 

Como o caso que citei anteriormente. O fato de ter de sepultar meu amor em nome de uma amizade era o que me machucava, agora, não sendo mais obrigado a alimentar esse sentimento que se provou tão falso quanto nossa amizade, na verdade me livrei. Melhor para mim, meu sofrimento foi desnecessário, deveria ter aceitado isso como uma coisa boa desde o começo. Mas esse crescimento também passa por um ciclo e precisou que eu primeiro sofresse a dor da perda para depois conseguir aceitar e reconhecer que, mesmo tendo sido importante e belo, foi efêmero. A perda, a morte, não são coisas ruins em si mesmas, portanto, mas na verdade tudo faz parte de um plano maior, que no momento exato podemos não compreender, mas que depois fará certo sentido, contribuirá para o crescimento. 

Acho que isso seja um crescimento no que se refere a considerar todo sofrimento como uma fase de transição, e não com um fim em si mesmo. Posso estar enganado, mas acho que seja uma boa forma de encarar as coisas não? 

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