terça-feira, 11 de outubro de 2016

O frágil guerreiro

Podemos estar ocupados demais, ou cegos demais para perceber, mas ao nosso redor, constantemente pessoas lutam para sobreviver, e lutam bravamente. Mas justamente por lutarem tanto, sempre aparentam uma fragilidade acentuada quando comparadas com outros, que travando lutas menores, exteriores, não conseguem enxergar a verdadeira força desses frágeis guerreiros.

Nesse exato momento por exemplo, em algum lugar, um jovem com o coração em pedaços se derrama em lágrimas por ver-se sozinho e abandonado num mundo que lutou para construir ao lado dos que amava, e que o deixaram em razão de seus próprios sonhos e esperanças. 

Passa a maior parte de seus dias em casa, tentando ocupar sua mente com os estudos e algumas outras obrigações, mas as suas lutas interiores são tão intensas e constantes que esse esforço é inútil. Por mais que seus olhos corram por páginas e mais páginas de muitos e muitos livros, sua mente é incapaz de abstrair uma vírgula sequer do que ele lê, pois seu coração só consegue preocupar-se com a guerra que há dentro de si. 

Em seu universo pessoal, duas nações lutam pelo domínio de um mesmo território, seu coração, e o sangue derramado de ambos os lados apenas consegue regar a vida daqueles que o cercam de ódio e dor. Entre esses povos em constantes guerras há dois irmãos. Por uma brincadeira do acaso não pertencem a nenhuma dessas nacionalidades, mas cada um tomou para si a luta de um povo. De um lado, um dos irmãos defende que o povo deve unificar-se com base na guerra, e que o povo mais fraco deve naturalmente ser subjulgado pelo outro. Já o outro irmão busca uma resolução pacífica, onde ambos os povos possam viver pacificamente, mas que não abre mão da submissão do outro também, embora de forma velada. Essa guerra simboliza o conflito interior que esse jovem depressivo tem de resolver dentro de si para que consiga voltar a viver normalmente com os outros.

Mas ele não consegue fazê-lo. Coube a ele o papel de apaziguar ambas as nações, mas ele não entende de diplomacia, isto é, não sabe que rumo dar ao próprio coração. 

Abandonado sozinho com apenas os sonhos que tinha nas mãos ele se vê tentado a desistir de tudo, e a viver uma vida de desilusão e desesperança. Mas também pensa em revoltar-se e passar a se impor por sobre o mundo que o destruiu. No entanto, por mais que pareçam posições distintas, o resultado final de ambas é o mesmo: a morte.

Não digo no sentido literal da palavra, mas afirmo sobre o ser do jovem que confuso e paralisado se encontra. Não existem mais os sonhos que tinha e buscava, ao ser abandonado pelos amigos eles se tornaram poeira pois deu-se conta de que não é capaz de realizá-los sozinho. Contemplando aquela poeira que lhe desce por entre os dedos ele vê suas esperanças morrerem e levarem com ela o amor que ele era capaz de sentir. No lugar desse amor surgiu apenas amargura, tristeza e torpor. 

Não é mais capaz de rir e nem sorrir. Não sai mais ao sol pois a luz machuca os seus olhos. Tudo o que ele consegue fazer é ficar no seu quarto escuro e deixar sua amargura transbordar em grossas lágrimas pelos seus olhos de forma que, exauridas as lágrimas e suas forças, ele adormece para no dia seguinte chorar novamente. E esse ciclo parece não ter fim. Parece que a cada dia algo novo surge para despertar em seu coração azedo a tristeza e a dor. Sempre lhe surgem novos motivos pra chorar. Seja uma palavra grosseira que ouviu, seja uma cena triste que viu ou apenas uma foto na internet, tudo é motivo para fazê-lo transbordar.

Essa aparência frágil, que por tudo desaba, dá aos outros a aparência de que ele é um jovem fraco. Mas é apenas sua aparência. Isso é resultado de todo esse conflito interno. Toda essa bagunça no seu interior que devasta sua aparência mas que na verdade esconde o grande e poderoso leão dentro de seu coração. Esconde esses dois exércitos, capazes de lutar até a morte para defender o que ama e acredita. esconde toda essa revolta. Enfim, esconde um mundo diferente, que ele não tem coragem de revelar aos outros pois, sendo sensível como é, não deseja nem ao pior de seus inimigos que sintam a dor que ele sente ao ouvir palavras rudes quando só é capaz de distribuir amor. 

Mas toda essa revolta dentro de si tem lhe causado uma dura consequência; ele aos poucos tem se matado. Ao conter dentro de si os ventos provocados por esse bater de asas demoníaco, ele acaba por destruir-se e não demora até que seu exterior desfaleça de vez. A guerra ao eclodir não irá matar apenas aos exércitos que dela participarem, ou seja, seus sentimenos conflitantes, mas resultará na morte da própria terra, seu coração.

E a batalha desse frágil guerreiro continua. Dia após dia, sem que ele veja sinais de seu fim. Tudo o que consegue sentir é o cheiro podre das trincheiras da guerra onde jaz seu coração massacrado e por onde escorre seu sangue derramado pelos outros que, sem querer, o feriram pensando estar ferindo seus inimigos. O frágil guerreiro trava uma grande batalha, infelizmente ele só não percebe que até agora ele lutou contra si mesmo, sem notar que o verdadeiro inimigo é o mundo que busca sua morte, mas que não quer sujar suas mãos com o sangue dele, e por isso o conduz ao precipício para que de lá ele se jogue, ao invés de, como um inimigo de vardade faria, puxar o gatilho.  

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